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Olá, pessoal.


Vou começar deixando claro que eu não me considero um escritor. Não tenho o hábito de escrever fanfics no sentido tradicional, e não pretendo mudar. Foi somente devido a uma repentina fagulha de inspiração que eu decidi expressar a minha interpretação pessoal sobre uma ponta solta do mangá clássico. Este é um capítulo único e não tenho planos para outras estórias do tipo.


Eu não me apressei com o texto, mas provavelmente poderia ter ficado melhor. Eu não pretendo continuar focado nisto, então espero que a qualidade esteja pelo menos decente. Dito isso, tanto críticas quanto elogios serão bem-vindos. Espero que gostem.



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A Última Caçada



A luz do sol da tarde acentuava as rachaduras que a Armadura prateada ainda apresentava, assim como as escoriações por todo o corpo de seu portador. Mesmo seus curativos não disfarçavam muito os ferimentos de seu último combate. Mas não era a dor que este homem sentia a cada passo, nem mesmo a humilhação de seu fracasso que pesavam sobre este Cavaleiro desonrado ao avançar cada degrau da escadaria de pedra. O peso... era o peso da dúvida.


Quando ele partiu para o oriente, ele integrava um grupo de cinco leais Cavaleiros de Prata com uma missão simples: executar cinco Cavaleiros de Bronze renegados. Tanto ele quanto seus companheiros estavam confiantes do resultado óbvio... mas nem mesmo sua habilidade de ler pensamentos permitiria a ele sequer conceber o que ele acabara de passar.


Agora ele retornava sozinho... e só não foi um dos mortos porque ele foi poupado. E foi poupado para que fizesse exatamente o que estava prestes a fazer: relatar o ocorrido ao Grande Mestre. Ele teria que relatar que um grupo de Cavaleiros de Prata foi dizimado por Cavaleiros de Bronze. Ele teria que relatar que um dos integrantes de seu próprio grupo, a mulher Marin de Águia, também se voltou contra o Santuário - um ato que ela assinou violentamente em todo o seu corpo antes de lhe dizer para retornar ao Santuário da Grécia.


E finalmente chegara o momento. Asterion de Cães de Caça atravessou as Doze Casas do Zodíaco, protegidas pelos Cavaleiros de Ouro que permitiram a sua passagem. Os soldados que abriam as grandes portas duplas já cochichavam durante o seu avanço; um gesto que não disfarçava os pensamentos que ele ouvia em volume muito maior. Curiosidade, perplexidade, vergonha... e dúvidas. Estes eram alguns dos sentimentos que ele captava. Mas ele permaneceu em silêncio; seu orgulho caiu por terra, como um lobo que perdeu toda a sua matilha para a sua presa.


No salão principal, ele encontrou a mesma visão de quando recebeu sua missão. Bem ao fim do longo tapete vermelho e das fileiras de grandes colunas de pedra, sentava-se o Grande Mestre: uma figura imponente, coberta por elegantes mantos e seu distinto elmo ornamentado. Este era o homem que comandava todos os Cavaleiros em nome da deusa Atena para proteger a paz na Terra. Talvez a sua incapacidade de discernir o rosto por baixo do elmo tenha facilitado um pouco o fardo que ele carregava; sem ver claramente as feições do Grande Mestre, era um pouco mais fácil pronunciar as palavras sobre o ocorrido.


- Então... com exceção da traidora Marin, você é o único que sobreviveu, Asterion? - o Grande Mestre indagou após ouvir o relato do Cavaleiro.


Ajoelhado e com o rosto baixo, Asterion silenciosamente balançou a cabeça em afirmação.


- Cavaleiros de Prata vencidos por simples Cavaleiros de Bronze. - reafirmou o Grande Mestre em um tom controlado, mas perceptivelmente severo. - Não acredito que simples Cavaleiros de Bronze puderam chegar a este ponto. Se esta missão está até mesmo além da capacidade de vocês, Cavaleiros de Prata, só me resta tomar uma atitude mais drástica...


- Espere, Grande Mestre - Asterion interrompeu subitamente, fitando o Grande Mestre sem se levantar. - Gostaria de dizer mais uma coisa.


- Pretende dar uma desculpa para seu fracasso?


- Não... - respondeu envergonhado. - Isso seria impossível a esta altura. É sobre Marin.


- Prossiga. - O Grande Mestre expressou curiosidade em sua voz.


- Quando ela me disse para informar o senhor do ocorrido... ela afirmou que o verdadeiro mal se oculta no Santuário. - O Cavaleiro de Prata fez uma pausa, sentindo-se prestes a cometer uma blasfêmia ainda maior que sua própria desonra. - Sei que é um sacrilégio sugerir isto, mas seria possível? Que o mal possa existir dentro no Santuário, em pleno seio dos Cavaleiros de Atena?


- Os Cavaleiros têm o dever de proteger a paz na Terra - o Grande Mestre respondeu após um segundo que quase pareceu hesitação. - Para cumprir este dever, é necessário ter a capacidade de julgar o bem e o mal. É típico de traidores tentar justificar suas ações. Mas não existem desculpas nem justificativas para praticar o mal.


- Entendo... o senhor deve ter razão - Asterion concordou com a cabeça - Mas como o senhor sabe, eu tenho a capacidade de ler pensamentos... e quando Marin falou sobre o mal, ela realmente acreditava que o mal se instalou de alguma forma no Santuário. Por mais que eu não quisesse aceitar essa idéia... eu não pude ignorá-la totalmente. Então, eu sondei os pensamentos de todos os Cavaleiros que encontrei no meu caminho até aqui...


- E então?


- Três Cavaleiros de Ouro me chamaram a atenção: Máscara da Morte de Câncer, Shura de Capricórnio e Afrodite de Peixes. Além de personalidades distorcidas, eles são os únicos que pensam na força como símbolo de justiça. Mas eles têm outra coisa em comum... quem pregou esta idéia a eles foi a mesma pessoa. - Asterion levantou o rosto neste momento para fitar o Grande Mestre. - E essa pessoa está diante de mim.


- Sim. O que você disse é verdade - O Grande Mestre se ergueu de seu trono, dando um passo a frente como que em preparação para o que viria a seguir. - Mas aonde você quer chegar?


- Eu ainda estou muito ferido e me desgastei ainda mais sondando todo o Santuário - Neste momento, o sangue começava a escorrer pela narina de Asterion, que ele ignorou enquanto continuava a falar. - Mas continuei lendo pensamentos sem parar, mesmo enquanto eu conversava com o senhor. E graças a isso, agora eu sei que o mal existe e onde ele está!


Em um piscar de olhos, o Cavaleiro de Prata se tornou mil homens que preenchiam todo o salão; espelhando os mesmos movimentos, todos se lançaram ao ar com a mesma posição de chute, todos voltados para o Grande Mestre.


- Ataque de Um Milhão de Fantasmas!!


O impressionante choque de incontáveis golpes sendo desferidos com o dobro da velocidade do som criou reverberações que se propagavam por tudo o local. Esta era a técnica principal de Asterion de Cães de Caça, poderosa mais do que o suficiente para estraçalhar um ser humano comum.


No final, o Cavaleiro de Prata aterrissou no ponto em que ele se localizava anteriormente para visualizar o resultado de seu movimento, só para descobrir com horror que seu alvo continuava em pé, aparentemente sem ferimentos. A única conquista foi arrancar o elmo do Grande Mestre com o choque, aumentando a surpresa ao expor os longos cabelos loiros e um rosto com feições dignas de um anjo.


- Não pode ser! Meu ataque não surtiu efeito?!


- Asterion - o homem conhecido como Grande Mestre se pronunciou com uma serenidade que não correspondia ao momento - Seria muito bom se você realmente fosse capaz de me matar com o seu ataque. Mas... mas...


- O quê? - Asterion questionou sem perder sua expressão de incredulidade - Do que está falando?


- Eu cometi crimes imperdoáveis como Grande Mestre. - Como se sentisse uma fraqueza repentina ou mesmo muita dor, o Grande Mestre começava a se recolher e tremer intensamente. - Se eu pudesse... também tiraria com prazer minha própria vida...


Asterion chegou a recuar um passo. Ele novamente sondava os pensamentos do Grande Mestre. - Você... recebeu meu golpe de propósito e realmente está arrependido? Mas espere, esses outros pensamentos...!!


- Mas você não vai me matar... e como já descobriu demais, também não vai viver!!


Neste momento, os cabelos do Grande Mestre mudavam do loiro angelical para um negro profundo, enquanto seus olhos refletiam um brilho avermelhado. Como se o homem que parecia um anjo de repente se transformasse em um diabo sedento de sangue.


Antes que Asterion pudesse compreender o que via, ou mesmo perceber qualquer outra coisa, seu corpo agora marcava o pilar mais próximo, como se lançado por um poder esmagador que nem mesmo sua Armadura de Prata conseguiu conter. Os cacos de seu elmo e placa peitoral se esfarelavam como se fossem feitos de barro enquanto seu corpo recaia ao chão, sangrando tanto pelos novos ferimentos quanto por aqueles que foram reabertos com o impacto.


- Como... isto é possível...?! - Com cada palavra, Asterion agora sentia seus pulmões queimarem e se inundarem com a hemorragia. - Mesmo lendo seus pensamentos... não enxerguei... o ataque...


- Ora, e o que tem isso? - O Grande Mestre debochou, enquanto se aproximava para encarar o Cavaleiro de Prata caído. - Mesmo lendo minha mente e superando a velocidade do som, você não é nada para quem se movimenta a velocidade da luz!


- Então... você é...


- Eu sou o Grande Mestre! - O homem anunciou triunfante. - O verdadeiro e único salvador deste mundo!


- Você realmente acredita nisso...? - Asterion tossiu ainda mais sangue enquanto usava a força que lhe restava para levantar o queixo e continuar a encarar o Grande Mestre. - Mesmo agora... vejo tanto maldade quanto justiça em sua mente... que tipo de homem você é realmente...? O bem... ou o mal...?


A consciência de Asterion começava a se esvair antes de conseguir ouvir qualquer resposta do homem que selou seu destino: ele irá morrer ali, sem vingar seus companheiros ou dar algum sentido à morte deles. Ele irá morrer sem destruir o mal que levará ainda mais Cavaleiros a se matarem em combate. No entanto... ele não irá morrer sem esperança.


Se Cavaleiros de Bronze são capazes de derrotar Cavaleiros de Prata... se a tal Saori Kido, por quem eles lutam, for realmente a deusa Atena... talvez um dia eles tenham sucesso onde ele falhou. Talvez Marin esteja certa e o Santuário possa ser purificado de todo o mal, mesmo que seja ao custo de muito mais sangue. Asterion ainda tinha dúvidas e perguntas que não foram respondidas nem mesmo com sua telepatia. Mas graças ao caminho que ele acabou de trilhar, agora ele pode partir com essa pequena, mas real esperança. Não seria possível a ele continuar vivendo de outra forma.


E talvez seus companheiros que aguardam sua chegada também pensem o mesmo.

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Que lindo cara.

Na realidade eu acabei lendo a fic ouvindo uma musica muito triste e emocionante e talvez nem tenha sido essa ideia, mas senti a melancolia de Asterion. Pensei na humilhação de ter perdido e ter que subir as doze casas mostrando sua derrota, sendo envergonhado mesmo que indiretamente até por soldados. Ele ouvindo o pensamento dos cavaleiros de ouro... E chegando ao grande mestre pensando que talvez toda luta até ali tivesse sido em vão, teria lutado e perdido companheiros enfrentando o 'verdadeiro bem' e perdido companheiros pelo nada.

O momento que o Saga bom aparece também é muito interessante.

A morte dele também se agarrando na esperança foi muito bonito.

 

Pegar um personagem esquecido e pouco aclamado para fazer uma fanfic explicando sua morte (que nunca foi explicada) é realmente digno de palmas.

Parabéns amigo. Sinceramente você escreve bem, não acho que tenham que parar por aqui. Vai ter um torneio de fics e se usasse essa (mas agora que divulgou infelizmente não poderá mais usar essa) com certeza iria longe.

 

Parabéns.

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Muito bom.

 

Gostei bastante de ver o jeito que você conduziu a narrativa. Pelo jeito você seguiu o mangá e não o anime. Legal.

 

Acho que nem preciso dizer que a fic me conquistou apenas por aparecer a expressão "Afrodite de Peixes". Não importa como.

 

Realmente tem talente. Se fizer uma história parecida com essa pro torneio de fics tem grandes chances.

 

Abraços.

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Apesar de ter sido apenas uma e curto, o seu brilho, dedicação e empenho são qualificativo. Este tamanho não se quantifica, sua qualidade é impecável.

 

Eis uma prova de talento desconhecido, adorei de como Asterion foi bem explorado e retratado como merecia. Ele lutava pelo que acreditava tanto que começou a questionar a veracidade das suas ações e dos seus companheiros e ainda Grande Mestre.

 

Saga foi bem tratado na sua dualidade, bem e o mal, tivemos uma pergunta bem retórica e inesperada.

 

Parabéns.

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Muito obrigado a todos pelos elogios. Não sabia sobre esse torneio de fanfics, mas para mim já basta que vocês tenham gostado do meu texto. Também vejo que vocês têm ótima sensibilidade literária, não é difícil entender por que esta parte do forum é tão popular.

 

A possibilidade de escrever nova estórias depende somente de inspiração e motivação. Por isso não posso prometer nada, mas se as estrelas se alinharem, ficarei feliz em compartilhar os frutos da minha imaginação novamente.

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Muito bom!

 

Você pode até não ser escritor, mas deve ler bastante, por que escreve muito bem.

 

Apesar de já serem conhecidos os personagens conseguiu deixar um suspense sobre o que ia acontecer...

 

Também acho que teria grandes chances no torneio.

 

Parabéns!

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Excelente, Oakie!

 

Fic fluída, bem descrita... Muito legal utilizar o Asterion!

 

Espero sinceramente que post mais fics aqui na nossa querida aba e também, que participe do TF 2013!

 

Parabéns!

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CARA, VOCÊ ME FEZ TREMEEEEEEER!!!!!!!!!!!!!

 

Eu simplesmente AMO Astérion de Cães de Caça e vez ou outra eu escrevo fanfics sobre ele também, mas nunca li nada como essa daqui!

 

Graças aos deuses você não cometeu o erro absurdo de mostrá-lo como alguém maligno, mas uma pessoa que realmente tem a capacidade de penetrar no interior das pessoas, e que isso o levou a ficar em dúvida entre as crenças de Marin e o que apregoava o suposto papa do Santuário.

 

Maravilhoso também você mostrar a disputa ideológica entre o bem e o mal existente nas convicções dos santos de ouro, sobretudo nas convicções duvidosas de Câncer, Capricórnio e Peixes, seguindo fielmente o mangá (que eu acho muito mais interessante que o anime), além dos detalhes do cabelo loiro de Saga se tornando negro em vez de azul virando cinza...

 

Os últimos pensamentos de Astérion, cheios de esperança pela vitória no bem mais à frente, mesmo ele tendo fracassado, acabou comigo. Imaginar como os amigos dele morreram em vão, e ainda que eles o estão aguardando do outro lado da vida depois desse sacrifício em nome deles, mesmo ele sabendo que não teria escapatória no local mais bem protegido do Santuário, me emocionou profundamente.

 

Outro ponto a destacar: a pequena, porém impressionante luta de Astérion com Saga foi muito bem narrada, bem dinâmica como uma cena assim exige.

 

Na gramática, apesar de bastante boa, apenas tem alguns deslizes que poderiam ser melhorados. Na qualidade narrativa, porém, não tenho nada a dizer, exceto que é maravilhosa.

 

Parabéns pela fanfic. E que, mesmo não se considerando um ficwriter, espero que outras "repentinas fagulhas" como esta ocorram outras vezes.

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Aplausos? Assovios? Parabéns? /pensa

 

Tudo isso seria pouco perto do que acabei de ler. Fantástico, perfeito, excelente! Cara, fiquei de boca aberta aqui...que escrita sensacional, que narração...olha, você realmente foi incrível! Grande capítulo! Gigante (rsrs) diria. Excelente mesmo. ;) Meus sinceros parabéns! Nem tenho o que comentar...sério, tá perfeito! Sem tirar nem por, perfeito!

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Excelente, meus singelos parabéns.

 

Ótima ideia de trabalhar com a morte do Asterion, que nunca fora abordada no mangá. Colocar a leitura de mentes dele como uma forma de descobrir a verdade do Patriarca foi muito bem bolado. Gostei também de ter usado as cores do mangá.

Sua escrita é muito boa. Espero ver mais histórias suas por aqui.

Tá de parabéns mesmo!

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Agora peguei tempo para comentar esta fic tão brilhante.

 

Primeiramente, Olá Oakie devo da meus devidos Parabéns para este trabalho impecável, que mesmo sendo curto deixou os usuários maravilhados com uma fic tão boa como é a tua.

 

Usar um elemento como este deve ter dado muito trabalho, Asterion mostrou que é um homem que serve Atena mas que acabou sendo levado pela ordem do patriarca de lutar conta sua deusa.

 

Você escreve muito bem, conseguiu descrever as cenas com um jeito único, espero que escreva uma fic por aqui tens grande chance de ganhar o TF, diria que é um participante a ser batido.

 

Forte Abraço!

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