Ir para conteúdo

Posts Recomendados

Numedalslågen. Quando o compositor alemão Richard Wagner descreveu o rio Reno em sua ópera “O Anel dos Nibelungos”, provavelmente se referia a estas águas que correm através do sudeste da Noruega. O rio é uma importante fonte pesqueira e hidrelétrica ao longo do Vale de Numedal, conjunto de montanhas que dá nome a este curso. Há um ponto localizado no centro desta região que é considerada inóspita mesmo para seus habitantes. No inverno é praticamente impossível resistir ao frio e a escassez de recursos. Entretanto, um jovem de cabelos vermelhos, envolvido em um manto de couro pardo desafia estas severas condições. Ele está às margens do Numedalslågen observando o outro lado da forte correnteza.

 

- O que estamos esperando? – questiona uma bela mulher de porte atlético e cabelos negros, sentada a alguns metros da margem do rio, aparentemente entediada.

 

- Os deuses do Norte não tem o costume de facilitar a visualização dos portões de sua cidade para visitantes indesejados como nós. É preciso aguardar os sinais mágicos que apontam para o Portal de Asgard. – responde o jovem ruivo.

 

- Asgard. Lar dos aesires, os poderosos Deuses Nórdicos. Por milênios reinaram absolutos no norte da Europa. Com sua ajuda os vikings sobrepujaram o clima severo e puderam prosperar. Como pôde um panteão tão forte desaparecer? – pergunta-se a bela de cabelos negros.

 

- Ragnarok. Ninguém poderia desafiar o poder dos aesires a não ser eles mesmos. A morte de Baldur e a traição de Loki desencadearam um conflito no interior da Cidade Dourada. Isso enfraqueceu as forças do deus-pai Odin e possibilitou aos seus inimigos um ataque final aos seus habitantes. Apenas um aesir sobreviveu ao Crepúsculo dos Deuses.

 

- O mais formidável guerreiro da história! É dito que ele sozinho foi responsável pela quase extinção dos gigas. Sua fúria quando em batalha causava tempestades que intimidavam até mesmo os mais destemidos. Nenhum nortista ousava caçar ou navegar enquanto a cólera do trovejante não arrefecesse...

 

- Hipólita – interrompe o garoto calmamente – você fala como uma verdadeira fã do deus do trovão.

 

Hipólita ri levemente, aproxima-se do rapaz encapuzado. Sua altura o supera em vários centímetros. Ela diz: Está com ciúmes, Ícaro? Confesso que nutro grande admiração por Thor e sua beleza, mas como rainha das amazonas o que realmente me interessa em um homem é sua força e habilidade de luta. Qualidades que vejo abundantes em você.

 

- Não me importa. Vamos! Bifrost já nos mostra o caminho.

 

Bifrost da qual se refere Ícaro é a lendária Ponte do Arco-Íris que liga a Terra à cidade dourada de Asgard. Homens comuns não podem atravessar esta passagem, porém, o jovem com cabelos flamejantes e sua altiva companheira não são pessoas comuns. Eles alcançam o início da ponte do outro lado do rio e a atravessam em direção ao seu destino final. No auge do reinaro aesir, os mais inspirados poetas não poderiam descrever a glória e beleza das ruas de Asgard e suas construções. Séculos após a derrocada de Odin, o cenário é sepulcral: tudo o que se vê são ruínas que não podem ser consideradas nem sombra do que um dia foi cantada como a mais formosa habitação dos deuses. Ao fim da longa avenida de paralelepípedos invadidos pela vegetação, Ícaro e Hipólita avistam o supremo palácio do Senhor do Norte.

 

- Esta é... Valhala?! – exclama Hipólita.

 

- Esta FOI Valhala! – retruca Ícaro com razão. Tudo o que restou do majestoso palácio onde moravam deuses e guerreiros humanos que provavam seu valor no campo de batalha foram alguns metros da muralha interna, mais precisamente os blocos que sustentam as portas da sala do trono que se encontram entreabertas. Não havia mais vestígios do teto ou de outros cômodos. Quando o garoto encosta sua mão para abrir definitivamente a porta da sala do trono, um frio corre pela espinha de Hipólita que o interrompe por alguns instantes:

 

- Cuidado, Ícaro! Estamos prestes a encarar aquele que é tido como o maior lutador entre todos os deuses conhecidos. Um homem que nem mesmo o Deus da Guerra olimpiano pode rivalizar...

 

Sem se intimidar com as palavras de sua parceira, Ícaro empurra a porta e adentra o recinto. O temor de Hipólita, alguns metros atrás, torna-se espanto. O homem que está sentado no imortal trono de Odin é um velho de aproximadamente dois metros e trinta de altura. Seus cabelos acinzentados correm por seus ombros chegando até a base do seu tronco. Seus antebraços de musculatura definida, porém flácida do tempo estão apoiados nas coxas e demonstram claro cansaço. Sua cabeça arqueada abaixo dos ombros parece fitar o pesado martelo aos seus pés. Aparentemente ele não notou a presença dos dois visitantes. Neste momento, o que outrora foi temor e sem seguida espanto finda como escárnio:

 

- Esse é Thor, o teutônico Deus do Trovão e Senhor das Tempestades? O homem que esmagou os gigantes de gelo e assassinou a incontrolável Serpente do Mundo? Hahahahahahaha! – A gargalhada de Hipólita é tão alta que mesmo quem estivesse do lado de fora de Asgard poderia escutá-la rindo. – A cabeça do velho se ergue na direção dos visitantes:

 

- Quem está aí? – Questiona o ancião. – Quem ousa invadir a Sala do Trono de Thor, o Senhor de Asgard?

 

- Ha, ha, ha! Não pode ser! Além de decrépito esta múmia está cega? Começo a duvidar da importância desta missão... – os sentidos da amazona encobertos por seu deboche não são capazes de notar o espantoso cosmo de Thor se elevando. Em uma velocidade inconcebível, o deus do trovão levanta-se e arremessa seu martelo mágico na direção da voz de Hipólita. Ainda mais veloz, Ícaro se interpõe e com o braço erguido ele cria um campo magnético que interrompe a trajetória do malho encantado. O deslocamento do ar gerado pela ação de ambos retira a capa do rapaz, revelando uma brilhante armadura prateada. Não fosse pela reação do ruivo, a cabeça da amazona teria explodido tamanha a violência que o impacto do martelo de Thor causaria.

 

- Tu foste... capaz de deter Mjolnir? Jamais outro ser pôde sequer empunhar meu martelo e tu o detiveste com as mãos nuas? – A voz de Thor denota incredulidade.

 

- Se fosse em outro momento da história, certamente Hipólita e eu estaríamos mortos. – responde Ícaro respeitosamente. Com seu poder ele faz com que o martelo caia ao chão. Thor compreende a iminência da ocasião e diz:

 

- Após a luta contra Jormungand, a serpente que rodeava o mundo, minha lendária força se esvaiu. Tudo o que me restava de poder empenhei neste último ataque. Estou indefeso agora.

 

Ícaro estende seu braço direito acima da cabeça. De repente, descargas elétricas começam a se agrupar formando uma flecha de energia ao redor de sua mão. Ele a lança na direção do deus nórdico que a recebe em seu peito sem esboçar reação. Thor ri:

 

- Que irônico! Derrotado pelo elemento que dominei por eras sem fim. – após proferir essas palavras, o gigante cai morto em frente ao trono de seu pai. É o fim do último deus aesir. Os olhos de Hipólita observam o deus morto e ela indaga:

 

- Não entendo a razão para isto. Que ameaça este homem moribundo poderia significar?

 

- Que ameaça um único gafanhoto pode significar a uma plantação inteira? – dito isto, Ícaro cobre-se novamente com seu manto e parte em direção a saída do palácio. Hipólita o acompanha logo atrás.

Link para o post
Compartilhar em outros sites

Seja bem vindo à aba, Thiago!

 

Para um primeiro capítulo (prólogo?) foi muito bom. O cartão de visitas foi dado e pelo menos a mim, muito me agradou. Gostei de saber que aparentemente pretende abordar a Mitologia Nórdica, isso pode dar um bom leque de possibilidades.

 

Gostei de cara da Hipólita. É uma personagem bacana. Ícaro até o momento não me agradou muito, mas claro, é uma impressão que pode mudar com o decorrer da história.

 

E enfim, no aguardo do próximo e curioso para ver como o enredo vai se desenrolar. Abraço!

Link para o post
Compartilhar em outros sites

Olá, Gustavo.

 

Obrigado pela avaliação positiva. Essa é a primeira parte de uma série de contos interligados que tenho escrito nos últimos meses. Sou novato em fanfics e estou aberto a críticas. Caso, você ache pertinente me informar sobre "furos" no meu texto, sinta-se à vontade.

 

Espero que todos gostem desta e das próximas estórias.

 

Abraços.

Link para o post
Compartilhar em outros sites

Prólogo lido.

 

Gostei muito desta proposta de história e dos seus personagens.

 

Sempre quis saber o que aconteceria depois de uma grande grandiosa como o Ragnarok e o destino dos deuses e encontrei um deus nórdico dos trovões patético e podre.

 

A premissa é interessante e dou-te as boas vindas nesta seção de fics.

 

P.S.: Convido-te a leres a minha fic Saint Seiya Era Mitológica - Bloody War

Link para o post
Compartilhar em outros sites

I - Hipermito revisitado

 

Há aproximadamente 13 bilhões de anos, o universo que conhecemos hoje estava comprimido em uma massa superdensa não maior que uma cabeça de alfinete. Foi quando um evento de proporções inimagináveis que o homem moderno nomeou de Big Bang causou a expansão e consequente criação do cosmos. A Suprema Virtude, a energia liberada por esta explosão, formou as estrelas e todos os corpos celestes conhecidos. Um raio de luz da Suprema Virtude transformou-se nos três elementos que criaram o planeta Terra: Gaia, a mãe-Terra; Urano, o firmamento e Pontos, a personificação da água. Durante um bilhão de anos essas três forças primordiais lutaram entre si pela subjugação de seus rivais. Aos poucos, a ira dos elementos tornou-se harmonia e isso possibilitou o surgimento da vida na Terra. O amor compartilhado por Gaia, Urano e Pontos gerou aquele que seria o ser que mais se assemelha à Suprema Virtude: o homem.

 

Por ser imagem e semelhança da Luz do Universo, o homem além dos cinco sentidos comuns à maioria das espécies do planeta (Visão, audição, olfato, paladar e tato), era dotado de um sexto sentido, a percepção extra-sensorial que lhe permitia sentir eventos metafísicos ao seu redor. Assim, o homem foi capaz de superar suas limitações biológicas e prevalecer sobre as forças da natureza. Dominando técnicas como a escrita, matemática e agricultura, a humanidade pôde crescer e organizar-se como sociedade. Entretanto, o Sexto Sentido escondia um segredo que pouco a pouco foi revelado: o cosmo.

 

O cosmo é a energia proveniente do universo, a essência da Suprema Virtude. Tudo o que existe possui essa energia, mas somente o homem é capaz de percebê-la e canaliza-la. Os indivíduos que começaram a desenvolver seu cosmo passaram a se destacar entre seus pares pela inteligência, força ou espiritualidade elevada. Muitos se tornaram heróis, outros reis e houve ainda aqueles que usaram os seus dons para inspirar e ensinar as ciências e os segredos do espírito para seus semelhantes. À medida que aperfeiçoavam seus dons e elevavam seu cosmo, alguns indivíduos foram capazes de transcender os limites do Sexto Sentido, alcançando o Sétimo (o cosmo pleno), o Oitavo (a habilidade de transitar em planos de existência diferentes) e finalmente, o Nono Sentido – a compreensão e transfiguração do homem na Suprema Virtude. Esta é a origem dos deuses.

 

É dito que o primeiro homem a despertar o Nono Sentido foi Zeus, seguido de seus irmãos mais novos Poseidon e Hades. Estes três, livres das limitações físicas e possuindo agora grande poder, optaram por dominar respectivamente o céu, os mares e o reino dos espíritos. Com o tempo, outros despertos do Nono Sentido também foram alçados a categoria de deuses. Apesar de estarem no mesmo nível de poder, cada deus optou por maneiras diferentes de exercer sua divindade. Uns optaram por guiar o homem nos caminhos da virtude espiritual, outros auxiliavam as sociedades controlando os elementos da natureza e garantindo a subsistência de seu povo e houve também aqueles que travaram guerras entre si, seja buscando o domínio sobre o planeta ou defendendo a humanidade de uma possível ditadura divina. Esses deuses eram conhecidos como “Os Deuses Furiosos” e os mais notórios foram os que constituíam o panteão grego de onde Zeus, Poseidon e Hades originaram-se.

 

Diferentemente de seus irmãos e filhos, Zeus não tinha interesse no controle universal e sentia grande pesar nas ações ostensivas de agressão ao planeta e seus habitantes. Ele confiou à sua filha Atena – nascida de sua cabeça e, portanto livre dos desejos tiranos de seus iguais – a guarda da Terra e da liberdade do homem, retirando-se para os confins do universo. Atena reuniu jovens virtuosos de todas as partes do planeta e os treinou para que despertassem seu cosmo e fossem capazes de auxilia-la na luta contra as divindades. Por repudiar as armas, a deusa orientou seus soldados a usar somente seus próprios corpos como máquinas de guerra. Os Cavaleiros de Atena, como eram conhecidos, possuíam poder para rasgar o céu com seus punhos e rachar o solo com seus pontapés. Sob o comando da Deusa da Sabedoria, muitas divindades menores e seus asseclas pereceram em suas intenções de dominação dos reinos da Terra. As seguidas vitórias da filha de Zeus despertaram o ódio e o temor daqueles que viam a humanidade como fonte para seu próprio deleite. Até que um dos deuses primordiais encontrou uma maneira de fazer frente à Atena e seus cavaleiros.

 

No lendário continente da Atlântida, Poseidon, o Senhor dos Mares, reuniu sete bravos em busca de poder e glória e os revestiu com armaduras produzidas a partir do oricalco, o material mais resistente do mundo. Com isso, o Rei dos Sete Mares com seus exércitos liderados pelos Sete Generais Marinas passaram a vencer os confrontos contra os desprotegidos soldados de Atena que não teve alternativa senão encomendar aos sábios alquimistas da Lemúria vestimentas que pudessem rivalizar com as escamas dos guerreiros atlantes. Os lemunianos então produziram 88 armaduras feitas de oricalco, gamânio e pós de estrelas. Essas armaduras foram categorizadas de acordo com o nível de poder dos cavaleiros: 48 armaduras para os cavaleiros de bronze, jovens fortes que podiam alcançar a velocidade do som com seus golpes, 24 para os cavaleiros de prata, ainda mais fortes com ataques que ultrapassavam em até três vezes a velocidade do som e 12 para os poderosos cavaleiros de ouro, soldados que haviam despertado o Sétimo Sentido e podiam atingir facilmente a velocidade da luz em suas batalhas. Curiosamente, quatro armaduras não receberam nenhuma categorização. Cada armadura representa a constelação protetora de seu usuário.

 

As batalhas travadas sobre o solo atlante foram tão devastadoras que o continente não resistiu e afundou onde hoje é conhecido como Oceano Atlântico. A guerra contra Poseidon foi vencida, mas o preço pago pela vitória foi caro demais: a precipitação da Atlântida resultou em um dilúvio universal que ceifou grande parte da população terrestre. Atena jamais se recuperou da dor causada pela perda de tantas vidas inocentes. Para evitar que tal desastre ocorresse novamente, a Deusa da Sabedoria selou as almas de Poseidon e seus seguidores e encarregou alguns cavaleiros de guardarem esses selos na longínqua Sibéria. Com o passar dos anos, os filhos desses cavaleiros abdicaram dos títulos dos seus pais e se auto intitularam “Guerreiros Azuis”.

 

Sete gerações depois, Atena construiu na Grécia um santuário onde poderia treinar e abrigar seus súditos. O templo da Deusa está no alto de um monte no centro do Santuário e é protegido pelas Doze Casas Zodiacais, guardada pelos cavaleiros dourados. O poder de Atena impede que qualquer pessoa chegue ao cume da montanha sem passar pelas doze casas e pelo salão do Grande Mestre, o encarregado do Santuário na ausência da Deusa. Durante algum tempo houve paz.

 

Os deuses não podem permanecer na Terra. A glória de seu poder é grande demais para este plano de existência. Dessa forma, eles encarnam em humanos puros mesmo que suas intenções sejam malignas. Atena, Poseidon e outros deuses utilizavam desses receptáculos para caminharem entre os homens. Um desses jovens puros, Alexandre da Macedônia recebeu o espírito de Ares, o deus da guerra. Ares descobriu a localização da ilha de Lemúria e convenceu seus habitantes a produzirem novas armaduras com a justificativa de auxiliar Atena na defesa do planeta. Após o término do trabalho, o Deus da Guerra e da Matança destruiu a ilha, deixando poucos sobreviventes. Auxiliados por alguns cavaleiros de prata, os últimos lemurianos se refugiaram na região de Jamiel, entre a Índia e a China onde puderam servir a Atena e seus cavaleiros como restauradores de armaduras. Desde então o número de lemurianos jamais passou de algumas dezenas de indivíduos. É provável que logo estejam extintos.

 

Alexandre, sob a influência do espírito de Ares, utilizou suas armaduras para declarar guerra ao Santuário. Primeiro ele enviou a raça dos Gigas, os gigantes, uma sociedade primitiva e brutal, constituída de seres de grande estatura e força física, sedentos por lutas e sangue. Mesmo não podendo rivalizar com o poder dos cavaleiros, esses gigantes foram capazes de enfraquecer sensivelmente as fileiras do Santuário, permitindo a Ares investir com todo seu poder bélico contra o lar da Deusa Guardiã da Terra.

 

Os quatro principais soldados do Deus da Guerra – Fogo, Chacina, Desastre e Terror – rapidamente subjugaram os cavaleiros de bronze e prata levando Atena a lançar mão de sua elite dourada para tentar impedir os planos de destruição do inimigo. Todavia, o poder dos cavaleiros de ouro não era suficiente contra as armas que Hades presenteou aos soldados de Ares. Em uma ação desesperada, o cavaleiro de ouro da casa de Libra implorou à Atena que autorizasse os dourados a usarem as doze armas contidas em sua armadura. Não vendo outra solução, a divindade permitiu pela primeira e única vez a utilização das armas de Libra em combate contra os Berserkers, os capitães do Deus da Violência. Muito sangue foi derramado até que o exército de Ares fosse derrotado e o deus furioso se exilasse na morada daquele que o ajudou, Hades. Atena mais uma vez saiu vitoriosa.

 

Ao longo da história muitas foram as batalhas travadas entre os defensores de Atena e aqueles em busca de sua destruição. Grandes invasões, guerras e revoluções tiveram a participação dos cavaleiros ainda que sua presença não tenha sido percebida pelos homens comuns. Jamais um cavaleiro foi enviado a um local de conflito sem que Atena ou o Grande Mestre o tivessem autorizado. Da mesma forma, o punho de um cavaleiro não se erguia para tomar partido de nenhum lado que não o bem comum dos povos da Terra. Quando Atila, o violento servo de deuses malignos chegou à Viena, um cavaleiro de ouro foi postado à frente dos portões da cidade italiana para rechaçar a invasão do rei Huno. Nero, Gengis Khan, Hitler... Todos aqueles influenciados direta ou indiretamente pelos deuses e que ameaçavam a humanidade como um todo, foram derrotados pelos cavaleiros de Atena. Depois de Ares, apenas um deus lançou-se em batalha direta contra a Deusa da Sabedoria.

 

Devido aos inúmeros conflitos contra as divindades que assolavam a Terra, a quantidade de cavaleiros a disposição de Atena raramente chegava ao seu número máximo. Em três ocasiões onde as forças da Deusa Guardiã se encontravam em baixo número, Hades e seu exército deram início a campanhas para destruir o Santuário.

 

O Senhor dos Mortos aliou-se à Hipnos (Deus do Sono) e Tânato (Deus da Morte) e enganou com promessas 108 homens para se tornarem seus fiéis espectros. Três deles, os reis Minos, Éaco e Radamanto tinham ainda o atributo de juízes dos mortos, sendo sua a responsabilidade pelo encaminhamento das almas dos para os Campos Elíseos, o Bosque das Brumas e o Tártaro. Os juízes do submundo eram os mais fortes do exército espectral.

Ao longo dos séculos XVI e XVIII, as forças de Atena e Hades se chocaram e grandes foram as perdas para as tropas da deusa, pois diferente dos espectros que não podiam morrer, os Cavaleiros de Atena precisavam sacrificar suas vidas para banir as almas dos espectros de volta para o reino dos mortos. No último confronto, apenas dois cavaleiros – Shion de Áries e Dohko de Libra – sobreviveram e foram incumbidos de reconstruir o Santuário e preparar novos soldados para a próxima Guerra Santa que ocorreria em 243 anos. Para isso, Atena abençoou Dohko com a técnica Mesapetha-Menos, fazendo com que seu coração batesse apenas uma vez por dia, prolongando a vida do cavaleiro de Libra para que ele pudesse vigiar o selo de Atena, a prisão dos espectros localizada nos Cinco Picos de Rozan, na China. Shion por sua vez, assumiu o posto de Grande Mestre do Santuário e cuidou pessoalmente da formação de novos cavaleiros ao longo do tempo. O cavaleiro de Áries era também um descendente dos lemurianos e herdou a vida naturalmente longeva de seus ancestrais. Por 230 anos, Dohko e Shion esperaram a movimentação do inimigo.

 

Ano de 1973. Em meio a mudanças radicais na cultura e na geopolítica do mundo, poucas pessoas ainda detinham algum conhecimento sobre a história dos Cavaleiros de Atena e de suas batalhas. Nomes como Zeus, Pégaso, Orfeu e Hércules foram considerados mitos, lendas criadas pelas civilizações antigas para explicar fenômenos naturais e narrar eventos fantásticos de tradição oral. Nesse ínterim, nascia no Santuário uma criança do sexo feminino que se acreditava ser a reencarnação da Deusa Atena nos tempos modernos. Saga, o cavaleiro de ouro de Gêmeos, executou Shion e assumiu secretamente sua identidade como Grande Mestre. Ele tentou assassinar a deusa recém-nascida, mas foi impedido por Aiolos, o cavaleiro de ouro da casa de Sagitário. Saga acusou Aiolos de atentar contra a vida de Atena e foi perseguido por Shura de Capricórnio, que o feriu mortalmente durante sua luta nos limites do Santuário. Acreditando na morte iminente do antigo amigo e agora traidor da deusa, Shura não se importou com o bebê que Aiolos carregava e os abandonou à própria sorte. O cavaleiro de ouro e todo o Santuário acreditavam que Atena estava segura sob a proteção do Grande Mestre.

 

Um rico industriário japonês passeava por aquela área naquele exato momento. Seu nome era Mitsumasa Kido e ele chegou até ali guiado pela curiosidade em conhecer a localização da mítica cidade dos cavaleiros. O senhor Kido encontrou Aiolos e este lhe confiou Atena e a armadura dourada de Sagitário. Mitsumasa empenhou toda a sua riqueza e poder para criar a deusa como sua neta Saori Kido e cuidar para que no futuro ela pudesse retornar ao Santuário e desmascarar o usurpador que ocupava o salão do Grande Mestre. Para isso ele enviou 100 crianças órfãs para diferentes lugares no mundo para treinarem e obterem o título de cavaleiros. Apenas 10 retornaram vivas e portando armaduras de bronze: Geki de Urso; Nachi de Lobo; Ban de Leão Menor; Ichi de Hidra; Jabu de Unicórnio; e os mais fortes dentre eles: Seiya de Pégaso; Shiryu de Dragão; Hyoga de Cisne; Shun de Andrômeda e Ikki de Fênix.

 

Após longas batalhas, incluindo dramáticas lutas contra os cavaleiros de ouro nas doze casas, Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun e Ikki puseram fim a farsa de Saga e restauraram a paz no Santuário. O saldo final da conspiração de Gêmeos foi desastroso para o exército de Atena: seis cavaleiros de ouro e dezenas de cavaleiros de prata e bronze mortos. O número de soldados a disposição da deusa nunca havia sido tão baixo.

 

Temendo pela perda de mais guerreiros, Dohko de Libra ordenou que apenas os cavaleiros de bronze – Pégaso, Dragão, Cisne, Andrômeda e Fênix – enfrentassem Poseidon e seus novos Generais Marinas dentre eles Kanon, irmão gêmeo de Saga e o responsável pela libertação do Deus dos Mares encarnado no jovem Julian Solo. Auxiliados pelas armaduras de ouro de Sagitário, Libra e Aquário, os cinco foram capazes de superar Poseidon e selar sua alma novamente. Kanon que havia sido derrotado por Ikki de Fênix desapareceu sem deixar rastros.

 

O momento da Guerra Santa definitiva finalmente chegara. Hades ressuscitou e enviou os cavaleiros de ouro mortos durante a conspiração de Saga juntamente com seus espectros para arrancar a cabeça de Atena, mas não contava que mesmo com a promessa de vida eterna oferecida a Saga de Gêmeos, Shion de Áries, Camus de Aquário, Shura de Capricórnio, Máscara da Morte de Câncer e Afrodite de Peixes, estes permaneceriam fiéis à deusa e desmascarariam seus planos para as tropas do Santuário. Assim, Atena e seus cavaleiros partiram rumo ao submundo para enfrentar Hades cara-a-cara.

 

No submundo, descobriu-se que Shun de Andrômeda era a reencarnação do Senhor dos Mortos, porém, com ajuda de seu irmão Ikki ele foi capaz de expulsar a alma de Hades que se refugiou nos Campos Elísios onde somente aqueles abençoados pelos deuses podiam ingressar. Os cavaleiros de ouro remanescentes, Mú de Áries, Aiolia de Leão, Milo de Escorpião, Shaka de Virgem, o redimido Kanon de Gêmeos e as almas dos outros dourados, romperam o Muro das Lamentações e abriram caminho para Seiya e seus companheiros chegarem ao Eliseu onde se depararam com os supremos auxiliares de Hades, Hipnos e Tânato.

 

Os deuses irmãos destruíram as armaduras de ouro que Poseidon, ainda encarnado em Julian Solo, havia enviado para socorrer os cavaleiros de bronze. Seiya, elevando seu cosmo ao máximo e através do sangue de Atena derramado em sua armadura, despertou a kamui (a divina vestimenta dos deuses) de Pégaso e derrotou Tânato. Seus amigos a seguir também despertaram suas kamuis e foram capazes de vencer Hipnos. A lendária Guerra Santa estava próxima do fim.

 

Hades, enquanto encarnado no corpo de Shun de Andrômeda, aprisionou Atena em um vaso sagrado que drenava o seu sangue até a morte. Os jovens de bronze localizaram este vaso, mas foram interceptados pelo próprio Deus do Submundo, agora em seu corpo original. Uma luta árdua foi travada entre os Seiya e Hades até que Atena se libertasse do vaso sagrado e atravessasse o Senhor dos Mortos com seu cetro, pondo fim as suas maquinações. Os Campos Elíseos e o reino dos desencarnados entraram em colapso com o fim de Hades. A Deusa da Sabedoria então transportou seus fiéis cavaleiros de bronze de volta a Terra.

Link para o post
Compartilhar em outros sites

II - HERDEIROS DAS ESTRELAS

 

Íllios contempla o vale coberto por pinheiros a sua frente. Pela informação descrita no mapa em suas mãos, ele sabe que seu destino está próximo. É sem dúvida o caminho mais difícil. Nenhum veículo terrestre, aquático ou aéreo seria capaz de atravessar essa grande área. Ainda assim, essa foi a melhor alternativa para uma aproximação furtiva do conjunto residencial onde deveria cumprir sua missão como Cavaleiro de Atena.

 

Foi uma surpresa quando a carta com o selo do Grande Mestre chegou a suas mãos. Fazia pouco mais de uma semana que o jovem cavaleiro se afastara do Santuário para tratar de assuntos pessoais. O falecimento de mãe obrigou o rapaz de 16 anos e cabelos prateados a encarregar-se de obrigações comumente destinadas a adultos. Com a côngrua que recebia ele não pode proporcionar uma cerimônia luxuosa, mas todas as despesas com o funeral e enterro foram quitadas sem pendências financeiras. Íllios leu atentamente as linhas escritas em grego:

 

“Há 15 dias uma equipe do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas desapareceu enquanto realizava investigação sobre uso de armas químicas durante um conflito entre a força policial sérvia e uma guerrilha autointitulada ‘Exército de Libertação de Presevo, Medvedja e Brujanovac’ na região conhecida como Vale do Presevo nos Bálcãs. Acredita-se que esta milícia foi a responsável pela abdução dos investigadores da ONU e, segundo informações do serviço de inteligência das Nações Unidas, os reféns estão sendo mantidos em um antigo conjunto habitacional ao sul do vale.

 

Como Mestre do Santuário e em nome de Atena designo Íllios, cavaleiro de Bronze da constelação de Pégaso e outro cavaleiro para esta demanda. Eles deverão infiltrar-se furtivamente e resgatar os funcionários da ONU. Em hipótese alguma poderão envolver-se em combate direto ou revelar suas identidades de cavaleiros.

 

Que o cosmo da Deusa ilumine seu caminho.

 

Shun, cavaleiro de Ouro de Virgem – Grande Mestre do Santuário de Atena.”

 

“Vejo o seu dedo nisso, Seiya”, refletiu. Como aluno, Íllios sempre foi indisciplinado. Apesar das virtudes como combatente, suas atitudes sempre puseram em dúvida a vocação como futuro cavaleiro de Atena. Estranhamente, Seiya nunca pareceu se importar tanto com esse comportamento rebelde: “Eu também dava muito trabalho para minha antiga tutora.” – repetia ele quando questionado sobre o porquê da insistência com alguém como Íllios. Contudo, Seiya estendeu seu treinamento por mais tempo do que normalmente era necessário. Agora, enquanto ele parte rumo a uma importante missão de resgate, o jovem de bronze questiona-se se está à altura da confiança depositada por seu mestre. "Não falharei!", pensa resoluto no momento em que atravessa um estreito riacho ao fundo do vale.

 

Atravessando o vale e chegando a outra extremidade, o cavaleiro de Bronze toma cuidado para não ser visto pelo inimigo. Mesmo o terreno sendo de difícil acesso, os rebeldes montam guarda. Há aproximadamente dez soldados fazendo a vigília externa da área residencial onde os funcionários das Nações Unidades supostamente estão. Íllios percebe que cada guarda é chamado no rádio de três em três minutos. Ele não poderá neutralizá-los sem que eventualmente os outros saibam. “Vou ter de me aproximar daqueles prédios à surdina”. – decide. Nesse momento, um vento frio e intenso percorre a região.

 

A área é composta por aproximadamente 15 prédios de apartamentos sendo que destes, quatro estão completamente destruídos e os demais possuem marcas de tiros e bombardeios, resultados de anos de guerra entre sérvios e albaneses. Há vários objetos de uso cotidiano espalhados pelas ruas no que podem ser vestígios de uma fuga desesperada dos habitantes. Roupas, utensílios domésticos e brinquedos estão entre esses objetos. Apesar do aparente abandono, o cavaleiro pode sentir o fraco cosmo de diversas pessoas ainda morando em alguns apartamentos. “Como podem demonstrar tanta calma vivendo numa situação como esta?”

 

Enquanto circula entre os blocos habitacionais, Íllios busca um local com maior concentração de soldados armados. O clima local parece acompanhar a tensão do jovem: o céu está tomado por nuvens escuras e o vento torna-se ainda mais congelante. De repente, ele percebe uma criança aparentando oito anos de idade correndo com uma velha bola de futebol em direção a um dos prédios mais ao centro do condomínio. A criança é recepcionada pelos pais e entra no edifício. Há dois soldados armados guardando a entrada, algo muito diferente dos outros prédios onde não há vigias. Aquela parece ser a localização do cativeiro.

 

“Miseráveis! Estão usando a população como escudo. Se eu errar, muitos inocentes morrerão!”. Ao concentrar-se neste prédio, o cavaleiro de Bronze nota que o cosmo agressivo dos rebeldes pode ser identificado no andar central do prédio e que os cosmos dos moradores estão distribuídos nos andares acima e abaixo do suposto cativeiro. Assim, uma intervenção militar não poderia ser realizada sem arriscar vidas inocentes.

 

“Preciso chegar ao andar central e derrubar os soldados de lá em menos de três minutos. Depois, terei de garantir a segurança de todos dentro do prédio. Seiya e Hyoga me disseram que haveria um segundo cavaleiro para me apoiar. Espero que ele não esteja vindo de monociclo...”. Decidindo o que fazer, Íllios entra no edifício ao lado do alvo. Ele usa um capuz para transitar entre os moradores sem ser notado. Sua pele morena contrasta demais com tez caucasiana dos habitantes dos Bálcãs. “Ainda bem que escondi a urna da armadura no vale. Não acredito que haja entrega de pizza em domicílio nessa região. Seria um péssimo disfarce!” – ele pensa ao saltar em direção ao prédio vizinho.

 

Um cavaleiro de Bronze pode alcançar a impressionante velocidade de 1.200 km/h quando luta em campo aberto. Em um espaço muito limitado essa velocidade não pode ser atingida sem riscos. Ainda assim, ao atravessar a janela do andar onde estariam os reféns, Íllios consegue mover-se muito rápido, quase imperceptível para olhos comuns.

 

Toda a ação ocorre em menos de um minuto. Os dez soldados que o cercam começam a atirar na direção da janela por onde o estranho surgiu. Íllios rola para baixo do soldado a sua frente e o derruba com uma rasteira. Antes que o rebelde caia, ele o agarra e o arremessa contra outros dois que estão a sua direita. Apavorados, alguns guardas atiram na direção onde o primeiro foi jogado e acabam por matar seus três companheiros. Temendo que os tiros a esmo atinjam os cativos ou os outros moradores do edifício, o cavaleiro diminui sua velocidade para que os sete restantes possam vê-lo. Ele então ataca o soldado armado com um rifle ao seu lado. O jovem agarra o cano da arma com a mão direita e em um movimento giratório com o braço esquerdo atinge a têmpora do agressor com uma cotovelada. Um segundo rebelde tenta aproveitar-se da situação e ataca o cavaleiro com um golpe vertical de punhal – de cima para baixo. Com a mão direita livre, Íllios bloqueia a investida e chuta o queixo do inimigo numa ação contrária. Desequilibrado, o homem estende seu braço e aponta uma pistola na direção do cavaleiro que aproveita a postura do primeiro chute para acertar o calcanhar no antebraço do atirador que perde a arma quando tem o membro quebrado em três partes.

 

Restam cinco. Dois tentam cerca-lo por trás numa formação em “V” e disparam. O cavaleiro de Atena salta e com o joelho acerta a testa do atirador da esquerda que cai desmaiado. O da direita tenta virar-se, mas é golpeado por um poderoso chute lateral de Íllios que o lança contra a parede. Ao tentar levantar-se, o soldado sente uma dor excruciante: suas costelas foram pulverizadas pelo ataque do cavaleiro e decide permanecer onde está. Os três últimos descarregam suas armas na tentativa de atingir o guerreiro do Santuário que corre na direção da parede onde as balas não poderão ferir ninguém. Ele aumenta sua velocidade novamente para desviar-se dos tiros. Não mais podendo mais contar com suas pistolas e metralhadoras, os três soldados desembainham facas e terçados e partem na direção do jovem de cabelos prateados.

 

Íllios abaixa-se para desviar de uma facada horizontal do primeiro atacante para em seguida o golpear com dois socos na altura dos rins e um soco direto no rosto do soldado que cai desacordado. Os remanescentes do grupo original aparentam conhecimento em artes marciais. Um deles finta uma terçadada e chuta lateralmente na direção da perna de apoio do cavaleiro que prevê o ataque e o bloqueia erguendo sua perna direita. Com a mesma perna, Íllios atinge frontalmente o peito do adversário empurrando-o para contra a parede. A elevada confiança do cavaleiro não permite que ele evite um pontapé rasteiro do inimigo ao seu lado, porém, antes de cair ao chão ele contorce seu corpo em arco e com uma das mãos impulsiona-se, saltando para trás e ficando novamente de pé. O guerrilheiro então avança sobre ele com facadas, chutes e joelhadas, todas desviadas ou defendidas pelo jovem de bronze. Aproveitando-se do descuido do adversário, Íllios o agarra pelo braço e sem solta-lo, vira-se para tirar o agressor de seu centro de gravidade. O homem viaja em um movimento circular e atinge o chão de costas num impacto tão violento que é possível escutar a cerâmica rachando por baixo de seu corpo. Sem virar-se, Íllios acerta com punho esquerdo o queixo do último inimigo que cai aos seus pés.

 

A luta acabou. Agora ele precisa libertar os reféns antes que o restante da milícia chegue ao local, guiada pelo som do tiroteio. Ao aproximar-se da porta onde os funcionários da ONU estariam presos, o rapaz escuta o disparo da uma arma em sua direção. “Como pude ser tão burro em diminuir meu cosmo antes de checar se estavam todos desacordados?!”. Íllios sabe que não conseguirá elevar seu poder antes que a bala o atinja. Subitamente, a temperatura do recinto cai de maneira drástica fazendo com que o projétil desacelere antes de tocar a pele do cavaleiro de Atena. Ao virar-se, ele observa que toda a sala onde está foi congelada, inclusive o soldado rebelde no chão apontando-lhe um revólver. “A cavalaria chegou!” – ele pensa.

 

– Me desculpe por não me revelar mais cedo. Preferi me manter como apoio e te ajudar quando fosse necessário. Sou Jakob, cavaleiro de Bronze de Cisne. – Íllios parece não gostar destas palavras e responde agressivamente:

 

- Não preciso da proteção de ninguém! Vamos logo! Precisamos sair daqui com os reféns antes que os outros cheguem.

 

- Não haverá outros. O vento frio que você sentiu antes foi uma estratégia que usei para neutralizar os rebeldes. Aos poucos eu diminuí a temperatura da área até que todos caíssem em estado de hibernação. Levará muito tempo até acordarem e já estaremos longe com os reféns.

 

As palavras de Jakob irritam Íllios ainda mais. Ele sabe que recurso usado pelo aluno de Hyoga de Aquário foi o melhor para evitar que fossem descobertos, mas o orgulho não lhe permite expressar gratidão. Tudo o que ele deseja neste momento é completar a tarefa e retornar à Grécia.

 

- Os funcionários das Nações Unidas devem estar por trás dessa porta.

 

- Sim. Posso sentir a presença deles. – concorda o jovem russo.

 

Os dois seguem em direção à porta. Dessa vez, os pupilos dos cavaleiros de Sagitário e Aquário mantêm seus cosmos em nível de alerta mesmo não sentindo nenhuma presença agressiva no cômodo adiante. Os dois cavaleiros pretendem se apresentar aos reféns como agentes das Nações Unidas e guia-los a um ponto de resgate fora da área de exceção delimitada pela guerrilha que controla as cidades do Vale do Presevo. Após assegurar o transporte dos funcionários, militares sérvios e do Exército de Libertação do Kosovo invadirão a área residencial para prender os rebeldes albaneses. Com essas ações, a guerrilha perderá um importante ponto estratégico e será forçada a entregar as armas. Ninguém desconfiará da participação do Santuário. Íllios e Jakob estão confiantes quanto ao sucesso da missão quando ao tocar a maçaneta, uma forte explosão os lança através da parede e para fora do prédio.

 

O impacto da explosão é capaz de matar instantaneamente qualquer ser humano. Caso sobrevivesse a primeira onda de choque, a queda de sete andares de altura completaria o trabalho de ceifar a vida da vítima. Íllios e Jakob não são seres humanos ordinários. São cavaleiros de Atena e possuem cosmos desenvolvidos que lhes dão força e resistência suficientes para suportar o trauma físico que acabam de sofrer. Em meio aos escombros lançados sobre eles após a queda, o cavaleiro de pele bronzeada e físico esguio exclama:

 

- Droga! Os reféns...

 

- Estão bem. Ainda posso sentir sua presença. – afirma Jakob. – O que foi aquilo?

 

- Uma bomba, sei lá!? Deve ter sido uma armadilha...

 

- Não foi uma bomba! Olhe para cima.

 

Os dois olham para o prédio de onde foram expelidos. Em meio a fumaça e poeira geradas pela explosão, um vulto corpulento parece observá-los. Subitamente, a sombra salta e aterrissa por trás dos cavaleiros de Bronze. Agora é possível distinguir bem o ser a sua frente: um homem muito alto, de cabelos e barba escuros e olhar assassino. A forma física dele compara-se a um bloco de pedra tamanha a opulência de seu corpo. O gigante traja algo que se assemelha a uma armadura, mas de uma cor negra opaca e sem texturas. As placas de metal escuro cobrem-lhe parcialmente braços, pernas e peito. A cabeça está protegida por um grande capacete no formato de um crânio de leão marinho. Sua face quadrada parece sair da boca do animal.

 

- Há! Sabia que não eram humanos comuns. Devem ser cavaleiros da Deusa. – o homem negro fala com tom de escárnio. – Melhor! Seria frustrante desperdiçar toda a minha força esmagando soldadinhos de chumbo.

 

- Eu sugiro que vistamos nossas armaduras agora. – sussurra Jakob para seu parceiro.

 

- Sugestão aceita! – responde Íllios.

 

Dois fachos de luz partem de direções opostas rumo ao céu. Um raio de luz branca surge do vale atrás do complexo residencial enquanto uma luz azul é projetada a partir dos prédios próximos ao campo de batalha. Os raios tornam-se então esferas de energia que se postam diante dos dois rapazes. Trata-se das vestimentas sagradas dos cavaleiros: as armaduras que representam as constelações protetoras dos Guerreiros de Atena. A esfera branca diante de Íllios revela um traje metálico cujas peças formam a figura de Pégaso, o cavalo alado. As patas dianteiras deste cavalo revestem as pernas do rapaz até a altura das coxas. As patas traseiras cobrem respectivamente os ombros e o antebraço. O tronco protege a cintura e o peito enquanto a cabeça e as asas do animal tornam-se um diadema que circunda todo o crânio do cavaleiro, deixando apenas seu rosto exposto. Jakob recebe a proteção da armadura que representa a constelação Cisne. A cabeça e asas também destinam-se a proteção da fronte e têmporas. A base do objeto resguardam os membros superiores ao mesmo tempo em que a parte posterior do dorso lhe protege as pernas até os joelhos. O peito do cavaleiro é resguardado pela parte frontal do objeto e a cauda da ave envolve sua cintura.

 

- Pégaso e Cisne. Cavaleiros de Bronze. Eu sou Ronan, o Leão Marinho. Espero que me entretenham mesmo sendo da classe mais baixa. – diz o gigante fazendo pouco caso dos guerreiros a sua frente. A ira de Íllios desperta:

 

- Não estou nem aí para quem quer que você seja! Eu vou te sentar a porrada!

 

- Íllios, espere! – o clamor de Jakob não é atendido. O cavaleiro de Pégaso avança contra o homem de armadura negra a uma velocidade sobre-humana. Ronan estende os braços para frente como se buscasse bloquear o ataque do adversário. Entretanto, uma grande quantidade de energia é concentrada nas palmas de suas mãos:

 

- AVALANCHE NEGRA! – grita o Leão Marinho disparando uma esfera de energia escura na direção do cavaleiro de Pégaso. Íllios desvia-se do ataque assim como Jakob logo atrás dele. O ataque do inimigo atinge o térreo do edifício onde estão os funcionários da ONU sequestrados. Ronan fala em meio a gargalhadas:

 

- Parabéns, cavaleiros! Vocês puderam se esquivar da minha “Avalanche Negra”, mas não conseguiram evitar que ela chegasse ao prédio e abalasse toda a sua estrutura. O que farão agora?

 

- Jakob, consegue manter o edifício de pé? – pergunta Íllios.

 

- Durante algum tempo, sim.

 

- De quanto tempo você fala?

 

- Com o grandão aí atacando? Uns dois ou três minutos.

 

- Obrigado por me dar um prazo tão grande!

 

- Meu mestre me ensinou a ser sincero. Sugiro que nos apressemos.

 

- Dar sugestões óbvias também foi um ensinamento do seu mestre? – Os dois jovens se separam. Jakob corre para baixo do prédio e com seu cosmo cria uma coluna de gelo ao seu redor. Ele precisará de toda sua energia para manter esta coluna e adiar o colapso da estrutura. Íllios, por sua vez movimenta-se na direção oposta ao prédio. Ele pretende manter a luta afastada de seu companheiro de armas.

 

- Em dois ou três minutos vocês estarão mortos! – provoca Ronan.

 

- Acabo com você em bem menos tempo, imbecil! – responde Pégaso.

 

Mais uma vez o cavaleiro de Bronze parte velozmente em direção ao gigante negro. A atitude do colega preocupa Cisne. Ele sabe que em lutas contra adversários fisicamente maiores, a melhor estratégia é manter distância e trabalhar o contra-ataque. O que Pégaso está fazendo é justamente o contrário disso. Íllios paira sobre Ronan. Ele finta um soco contra a cabeça e acerta o estômago do Leão Marinho que parece ter sentido o golpe. Pressentindo a oportunidade, o cavaleiro de cabelos prateados ergue seu punho e busca atingir o inimigo em um ataque vertical. Inacreditavelmente, Ronan esquiva-se do soco e envolve Íllios com seus poderosos braços. A pressão sobre o corpo do cavaleiro é tão grande que o faz lembrar-se de quando seu tutor Seiya lhe contou da vez em que quase sucumbiu após ser apanhado pelas mãos de Geki, o Urso de Bronze. O gigante negro então gira seu corpo elipticamente para trás, enterrando o jovem Pégaso no chão. Sem perder tempo, Ronan gira como o ponteiro de um relógio sobre sua vítima, postando-se ao lado do cavaleiro que ainda está atordoado pelo primeiro impacto. Com a mão esquerda, o Leão Marinho pressiona o corpo do cavaleiro contra o chão enquanto que com a mão direita, ele dispara fortíssimos socos na cabeça. Ronan gargalha enquanto esmurra seu inimigo incessantemente.

 

O cavaleiro de Pégaso cobre o rosto com os braços. Não fosse a proteção da armadura de Bronze, ele já estaria morto. O som dos golpes ecoa como trovões entre os prédios do conjunto residencial onde se encontram. Então, Íllios aguarda um intervalo entre os ataques para impedir a trajetória do punho de Ronan com o pé. Assim que bloqueia o soco devastador de seu inimigo, ele impulsiona-se para cima, se livrando da posição incômoda. O soldado de Bronze novamente pairando sobre o adversário, concentra seu cosmo na ponta do pé direito e o ataca com um golpe giratório:

 

- CHUTE RELÂMPAGO DE PÉGASO! – o pontapé lança Ronan a vários metros, tendo sua trajetória interrompida pelos escombros do que antes foi um prédio residencial. O cavaleiro então parte para ajudar seu parceiro, mas para no meio do caminho ao ouvir os passos do homem trajando armadura negra saindo através da poeira.

 

- Há, há, há! Foi realmente um forte chute à queima roupa. Infelizmente para você, tudo o que senti foram cócegas! – Antes que Íllios possa responder a esta provocação, Jakob tenta aconselhá-lo:

 

- Esse cara é forte demais! Não dá para vencer com golpes concentrados em um único ponto. Ele sempre vai dar um jeito de desviar ou bloquear o ataque. Você precisa acerta-lo em vários pontos diferentes antes que ele consiga se proteger.

 

- E o que você quer que eu faça? – Questiona o nervoso Pégaso.

 

- Hyoga certa vez me contou sobre a técnica mais poderosa de Seiya. Por que você não usa essa técnica contra ele? Talvez com isso seja possível superar sua defesa.

 

- Posso vencer meus inimigos com minhas próprias técnicas! – a resposta de Íllios pasma Jakob que nada mais fala. Ele apenas observa o companheiro investir sobre Ronan de novo. Não resta muito tempo até que o prédio entre em colapso.

 

Ronan sorri ao ver a aproximação de sua vítima. O cavaleiro de Bronze tenta acertá-lo com um chute voador que é facilmente esquivado. Ao tocar o chão, Pégaso passa a avançar contra ele com chutes e socos desferidos de diferentes direções. O gigante nota a velocidade de seu inimigo. Alguns golpes superam sua defesa e o acertam em várias partes do corpo, porém, sem causar danos efetivos.

 

A frustração de Íllios aumenta a medida que seu opositor parece divertir-se com a situação. Mesmo sendo claramente mais rápido, suas técnicas não estão surtindo o efeito esperado. Ele tenta atingir o gigante novamente com seu “Chute Relâmpago de Pégaso”, mas é surpreendido quando Ronan interrompe o ataque segurando-lhe a perna pelo tornozelo.

 

- Um ataque não surte efeito duas vezes contra um mesmo cavaleiro. Não te ensinaram isso na escolinha de Atena? – Ronan ergue Íllios com os dois braços e o enterra no solo como um bate-estaca. Ele repete o movimento mais duas vezes antes de arremessa-lo contra a parede do prédio que Jakob se esforça para manter de pé. Íllios levanta-se lentamente e ouve as palavras tensas de seu irmão de armas:

 

- Cara, qual é o seu problema? Você está levando uma surra!

 

- Não adianta insistir. Não vou usar a técnica do Seiya!

 

- Se você não usa-la, vai morrer! Eu e todos os moradores e reféns dentro deste prédio também! Cara, te pago uma pizza se você deixar essa teimosia de lado! – nesse momento o homem que se intitula Leão Marinho salta e fecha-se em uma bola de energia negra que partindo velozmente na direção dos dois guerreiros:

 

- Hora de morrer, cavaleiros de bronze: EXPLOSÃO DE ÉBANO!

 

- Íllios, é agora! – Jakob grita.

 

- Droga, cara, você é um pé no saco! – O cavaleiro explode seu cosmo e lança centenas de socos contra a esfera negra do gigante. “METEORO DE PÉGASO!”

Ronan de Leão Marinho é cegado pelo forte e alvo brilho dos múltiplos ataques de Íllios. De repente, golpes potentíssimos o atingem em vários pontos do corpo como uma verdadeira chuva de meteoros. A ofensiva rompe a defesa do gigante, destroçando sua armadura e jogando-o contra um edifício abandonado. A força do impacto faz com que o prédio desmorone sobre seu corpo, acabando com qualquer possibilidade de sobrevivência.

 

O cavaleiro de Cisne ao ver a vitória do parceiro definida, concentra seu cosmo ao limite. O poder emanando de seu corpo faz com que o ar ao redor da base do edifício se condense até que colunas de gelo sejam criadas para dar nova sustentação ao prédio. O esforço é extenuante e doloroso, mas finalmente a ameaça de colapso é contida. Com voz ofegante, Jakob diz:

 

- Minha parte... está feita. Desperte todos com o calor de seu cosmo e... retire-os de lá o mais rápido que puder. Não sei quanto tempo... as colunas de gelo resistirão.

 

Íllios leva poucos minutos para completar a tarefa. Cerca de 20 moradores e mais os 16 reféns são acordados do estado de hibernação gerado pelo frio de Jakob e retirados do prédio. Os cavaleiros então escoltam os funcionários das Nações Unidas até o ponto onde uma equipe de resgate os aguarda. Ao fim do dia, os jovens assistem de longe os rebeldes albaneses sendo capturados pela coalisão formada pelo exército sérvio e o ELK.

 

- Está feito. Nosso trabalho aqui terminou. – afirma Íllios.

 

- Acho que não. Essa batalha não foi prevista. Tenho certeza que o Grande Mestre vai querer detalhes sobre o que aconteceu aqui. – retruca Jakob.

 

- Será que aquele cara era um mercenário? Mas como pode ser um mercenário com poderes de cavaleiro? – questiona-se Íllios.

 

- Hyoga me disse que muitos são treinados para tornarem-se cavaleiros, mas poucos conseguem suportar as provações. Alguns desses que abandonaram o caminho de Atena podem ter despertado o cosmo e decidido usá-lo para o mal.

 

- Seiya me falou sobre algo parecido. Ele contou que no passado tiveram de lutar contra caras usando essas armaduras negras. Será que ele era um desses tais cavaleiros negros?

 

- Só há um jeito de saber: precisamos ir ao Santuário!

 

- Não antes de você me pagar uma pizza!

 

 

NOTAS

1) Côngrua: pequena contribuição financeira dada aos sacerdotes cristãos pela igreja por seus serviços. Nesta história, a côngrua é um auxílio de custo dado a todos aqueles que servem Atena como cavaleiros. O valor é igual para todas as classes.

 

2) Conflito no Vale do Presevo: http://pt.wikipedia.org/wiki/Conflito_no_sul_da_S%C3%A9rvia

Editado por thiagoeugenio
Link para o post
Compartilhar em outros sites

Primeiramente um conselho, mon ami:

 

Evita postar tantos capítulos numa semana, a maioria de nós, posta um por semana por conta dos nossos afazeres e depois o prazer, apreciação, calma, leitura e comentário. Acredita que desta vez não irás receber muitos comentários se postarem muitos por semana, em vez por semana, é o conselho que dou-te, espero que o sigas e não o leves a mal.

 

Hipermito lido.

 

Achei este como uma releitura em conjunto mais completo e abrangido do que se conhece oficialmente, no entanto, não tiro o mérito algum, apenas faço uma observação e comentário de como gostei do que fizeste.

 

Segundo capítulo lido.

 

Eis que foi em encontro dos seus discípulos, quando li que era um Cavaleiro de Pégaso, eu pensei "Outra vez! Mais um Pégaso numa fic! /pensa ", nada que tira seu brilho ou que me desvia da atenção, e custa acreditar que Seiya tenha um pupilo tão rebelde e difícil de aguentar, mas a grande surpresa foi Jakob de Cisne, muitas vezes tinha o visto como Cavaleiro de Grou, então os lendários Bronzeados são Dourados, e Shun é o Grande Mestre?

 

Em outro pormenor foi a possível aparição de Cavaleiros Negros, será que aquele Ronan de Leão Marinha, não seria um Marina?

 

Enfim, estou curioso pelo próximo capítulo, excelente trabalho e abraços.

  • Like 1
Link para o post
Compartilhar em outros sites

Thiago!

 

Muito bom seus textos e ótimas descrições. Lutas bem trabalhadas e cenários igualmente bem retratados.

 

Gosto de fics que se passam após o anime e que os personagens clássicos tenham papel ativo na mesma. Só não me agrada muito o fato de aparecer as mesmas armaduras... Pégaso, Cisne... Acredito que se tu escolhestes outras armaduras, teu leque de opções para desenvolver a história seria maior! Que tal? hehe

 

Que dia mesmo será a tua postagem?

 

Cara, excelente trabalho!

 

Abraços.

  • Like 1
Link para o post
Compartilhar em outros sites

Obrigado aos dois: Saint Myst e Bethoveen pelos comentários e dicas.

 

Lancei logo esses capítulos de uma vez só pq era um material q já estava pronto há algum tempo. A partir de agora, vou lança-los quinzenalmente (essa semana conta como a primeira) como informei no "Guia".

 

Justificar minhas escolhas soaria como tentar explicar a piada. Como disse antes, é minha primeira experiência com fanfics e essa estória partiu de uma ideia q tive há muitos anos de uma HQ que desenharia. O tempo passou e revolvi transformar a HQ em texto.

 

Vcs são veteranos em ler e criar fanfics e podem ter certeza que suas contribuições serão levadas em consideração. Apenas peço que relevem o fato do meu ser o 1000° Pégaso que vcs conhecem. :)

 

Mais uma, muito obrigado pela leitura e pelas críticas que sempre serão bem-vindas.

 

Abraços.

 

PS. Caraca, muito bom poder compartilhar meus textos com vcs!

Link para o post
Compartilhar em outros sites

Os seus textos são muito bons, Thiago. Excelente mesmo.

 

Vamos lá, a releitura do Hipermito sob a sua ótica foi bem agradável de se ler. Particularmente gosto muito de ficar relendo e relembrando coisas que já foram abordadas em outras vertentes da história. Enfim, coisa minha. Mas que muito me agradou.

 

Sobre o capítulo, eventos futuristas pra mim ou é 8 ou 80. Ou a pessoa consegue abordar a trama bem, ou aborda mal ao ponto de ser ruim e me desagradar. Felizmente, até o momento, não senti isso. Estou gostando da forma como conduz o texto e a trama está se desenvolvendo bem. Me pergunto qual será a relação do prólogo com o restante da trama em si...

 

Ronan de Leão Marinho. Os inimigos da sua fic serão Marinas? De cara associei a isso. Mas, achei um pouco estranho ele vergar uma Armadura de cor negra, pois já tinha formulado na mente que o traje dele era Laranja. Vai entender... rss

 

Enfim, compartilho da visão do amigo Beto, também não curto o uso das mesmas constelações não... Mas, talvez essa impressão passe.

 

Parabéns e abraços!

  • Like 1
Link para o post
Compartilhar em outros sites

Os seus textos são muito bons, Thiago. Excelente mesmo.

 

Vamos lá, a releitura do Hipermito sob a sua ótica foi bem agradável de se ler. Particularmente gosto muito de ficar relendo e relembrando coisas que já foram abordadas em outras vertentes da história. Enfim, coisa minha. Mas que muito me agradou.

 

Sobre o capítulo, eventos futuristas pra mim ou é 8 ou 80. Ou a pessoa consegue abordar a trama bem, ou aborda mal ao ponto de ser ruim e me desagradar. Felizmente, até o momento, não senti isso. Estou gostando da forma como conduz o texto e a trama está se desenvolvendo bem. Me pergunto qual será a relação do prólogo com o restante da trama em si...

 

Ronan de Leão Marinho. Os inimigos da sua fic serão Marinas? De cara associei a isso. Mas, achei um pouco estranho ele vergar uma Armadura de cor negra, pois já tinha formulado na mente que o traje dele era Laranja. Vai entender... rss

 

Enfim, compartilho da visão do amigo Beto, também não curto o uso das mesmas constelações não... Mas, talvez essa impressão passe.

 

Parabéns e abraços!

Bom, vai levar um tempinho até ficar claro a origem desses cavaleiros negros. Espero que gostem.

 

Abração.

Link para o post
Compartilhar em outros sites
  • 3 semanas depois...

III - RESILIENTE

 

 

Às seis horas e cinquenta e sete minutos o sol se ergue no litoral de Atenas. Os primeiros raios de luz da alvorada colorem as rochas das encostas com um dourado puro somente comparado ao ouro. Para aqueles que vivem há anos nesta cidade, esse evento pode passar despercebido. “Um espetáculo para turistas” alguns podem afirmar. Entretanto, para Geki, cada novo alvorecer é mais belo e único que o anterior.

 

Trinta minutos antes, o cavaleiro de Bronze de Urso levantou-se com as estrelas lutando para manter seu brilho enquanto a poderosa carruagem de Apolo ainda não havia iniciado sua viagem pelo firmamento terrestre. Saindo de seu minúsculo casebre de um cômodo apenas, ele se dirige ao tonel de água logo a frente de sua habitação feita de estuque e palha seca. A faixa áurea sobre o Mar Mediterrâneo é sua companheira no momento em que lava seu rosto pontualmente às seis horas e cinquenta e sete minutos. Com mãos e rosto ainda molhados ele faz uma pausa para admirar o nascer do sol uma vez mais.

 

Com a água do mesmo tonel, Geki prepara seu café em um pequeno fogão de barro feito artesanalmente sob a janela frontal da choupana. Como acompanhamento ele come seu desjejum com frutas, alguns pedaços de pão e kebab – carne assada e entremeada de vegetais. A culinária grega o agrada muito apesar de sua origem japonesa. O astro-rei ainda não se afastou o suficiente do mar quando ele inicia seus exercícios físicos matinais.

 

O cavaleiro de Bronze sabe do limite de sua cosmo-energia. Num embate contra um inimigo de nível superior, sua única chance de vitória consiste em golpear brutalmente, causando danos severos antes que seu opositor possa concentrar um ataque energético. Por isso, todo dia Geki submete-se a rotinas físicas inumanas: milhares de repetições de exercícios que vão de abdominais à agachamentos com o peso de uma coluna de mármore sobre as costas. Os habitantes do Santuário costumam dizer que sua força é tamanha que nem mesmo o maior dos ursos selvagens seria páreo para o gigante de bronze.

 

- Senhor Geki! – uma voz por detrás do cavaleiro interrompe seus exercícios. Trata-se de Ágata, uma jovem camareira do Santuário. – Uma das antigas ruínas desmoronou sobre alguns aldeões. Eles estão presos sob um grandes pedaços da fachada. O senhor precisa ajudar! - Geki responde ao clamor da moça dirigindo-se rapidamente ao local do acidente. A urgência da situação é grande demais para que ele perca tempo com palavras.

 

Próxima ao casebre de Geki na encosta há uma passagem entre dois barrancos. À direita, vestígios do que poderia ter sido um pequeno templo religioso pendia suas ruínas fragilmente no topo da elevação. Como ruínas abandonadas que remontam à Era Mitológica podem ser encontradas em toda a área do Santuário, ninguém jamais atentou para o perigo que ela representava. É possível que a chuva da noite anterior tenha sido determinante para o desmoronamento.

 

Algumas pessoas e guardas tentam em vão erguer as grandes pedras que pressionam os três aldeões. Um deles, um ancião, está com a parte inferior do corpo completamente coberta por rocha e terra. Apesar da gravidade do acidente, este apresenta um semblante calmo. O segundo, ao seu lado, está mais preocupado com o irmão, soterrado sob as pedras de mármore do que com sua perna esquerda quebrada pelo impacto dos escombros. Ele grita desesperadamente: “AGUENTE FIRME, IRMÃO! A AJUDA ESTÁ A CAMINHO!”

 

Agindo por impulso, Geki começa a afastar sozinho os escombros. O primeiro a ser resgatado é o homem com a perna lesionada. Havia somente uma rocha sobre sua perna que foi facilmente removida. “Ajude meu irmão, por favor!” clama o homem. O cavaleiro então pediu para que o idoso tivesse um pouco de paciência enquanto ele tentava resgatar a vítima soterrada. Serenamente o senhor de idade avançada assentiu com a cabeça e o Urso pôde então começar a retirar as pedras e a terra. Logo o irmão do primeiro é encontrado em posição fetal e desacordado. Isso salvou-lhe a vida já que esta posição gerou uma bolsa de ar suficiente para impedir seu sufocamento. Os outros habitantes e guardas cuidam dos irmãos feridos quando Geki chega perto do ancião e este lhe fala:

 

- Não se preocupe comigo, bom cavaleiro. Estou completamente esmagado da cintura pra baixo e sei que isso significa a minha morte. Não estou triste com isso. Pude servir à Atena e criar meus filhos neste Santuário. Peço-lhe apenas que chame minha família para que possa me despedir deles antes do fim.

 

O cavaleiro de Bronze possui uma personalidade tão bruta quanto seu físico e não pode encontrar palavras de conforto. Ele apenas pede para que a família do ancião seja chamada e diz:

 

- Garantirei que o senhor se despeça de sua família. Não sairei daqui até que sua vida termine e eu mesmo ajudarei em seu funeral. Que os Campos Elísios o recebam com festa!

 

- Obrigado, cavaleiro! – responde o senhor com um sorriso no rosto.

 

A consternação toma conta daquelas pessoas. A despeito de Geki que não expressa seus sentimentos, todos sentem um profundo pesar por aquele ancião que todos conheciam. Seu nome é Didimo e ele é um oleiro que produzira grande parte das louças da cidadela. Todo o Santuário o conhece e o respeita. Geki permanece de pé, ao lado do velho enquanto os outros feridos são atendidos. Em seu coração ele sente que é a melhor maneira de demonstrar respeito àquele homem. O cavaleiro de Urso foi treinado para ser um soldado e isso é tudo o que ele sabe ser. Sua boca é incapaz de proferir palavras bonitas; assim, a atitude de protegê-lo até que possa se despedir da família equivale a um poema.

 

- Vocês estão fazendo barulho demais! O senhor Dídimo precisa de quietude. Levem os feridos e saiam todos! Ficarei com ele até que sua família chegue. – o grave tom de voz do cavaleiro de Bronze assusta as pessoas. Imediatamente eles conseguem por os dois irmãos em padiolas e se afastam. Com leve espanto, mas sem mudar seu semblante, o oleiro idoso dirige a palavra ao seu protetor:

 

- Algum problema, cavaleiro?

 

- Não se preocupe. Aconteça o que acontecer, eu garantirei que seu último desejo seja realizado. – A resposta intriga Dídimo e ele observa o Urso de Bronze voltar seu corpanzil para o caminho que leva à saída do Santuário. Um vento com o doce perfume de flores corre através da estrada vindo daquela direção. O ancião não pode ver nada além daquilo que sua posição deitada permite ver. Ele apenas pode escutar as palavras de Geki:

 

- Detenha seus passos, estrangeiro! Identifique-se! – Dídimo não sabe com quem o Urso está falando. Entretanto, ele sabe que não se trata das pessoas que estavam com eles há pouco.

 

- Sou um viajante que ouviu falar do mitológico Santuário de Atena e vim para contemplar sua beleza de perto! – responde uma voz distante alguns metros de onde Dídimo e Geki estão.

 

- Sinto as intenções malignas do seu cosmo. Com certeza deseja fazer mal à Atena. Sinto muito, mas você deu azar de encontrar Geki de Urso montando guarda nesta estrada. Você não passará! – Geki caminha na direção da voz e o velho oleiro não pode mais vê-lo. Ele então começa a orar para Atena. “Garanta a vitória de seu guerreiro, minha Senhora!”, sussurra.

 

O homem postado a cerca de 50 metros de Geki está envolto em um manto de tecido cinza grosseiro com um capuz que cobre seu rosto, porém é possível ver a tez alva e imaculada do estranho. Ele parece não se abalar com as palavras agressivas do cavaleiro:

 

- Não preciso da permissão de um cão-de-guarda para ir aonde quero! Saia do meu caminho ou farei com que se ajoelhe e lamba as minhas botas! – a ameaça do homem encapuzado é o gatilho que faz Geki disparar em sua direção. Enquanto corre, uma luz azul escura surge atrás dele. É a armadura de bronze de Urso pronta para o combate.

 

As partes do objeto que representam um urso gigante pronto para a caça se desfaz em várias partes que cobrem o corpo do cavaleiro sem que ele detenha suas passadas. Geki então põe em ação sua estratégia primária: atingir seu inimigo com toda a potência de seu cosmo e músculos antes de qualquer reação contrária.

 

A força do impacto do soco do Urso produz um som metálico seco e breve. Um flash de luz poderia ser visto por quem estivesse nas redondezas. O capuz é completamente rasgado e o estranho é revelado. Um belo jovem de cabelos dourados com diversas mechas prateadas. Sua pele branca contrasta com os olhos negros e profundos. Geki imagina se não está lidando com algum modelo fotográfico. As placas de metal escuro que revestem o suposto invasor possuem diversos fios verdes lembrando caules de plantas pintados em suas bordas. Nas extremidades dessas plantas, narcisos amarelos adornam o centro das placas. A força deste ataque inicial afasta o estranho em alguns metros. Todavia, sua reação se resumiu em erguer a mão esquerda para bloquear o punho do cavaleiro de Atena. Jocosamente, ele diz:

 

- Peço desculpas pela ofensa. Você certamente possui alguma força acima de um cachorro. Mas isso não é suficiente para o belo Narciso! – Uma grande pressão de ar empurra Geki para trás, quase o fazendo retornar para perto dos escombros. Ele vira a cabeça rapidamente para ver se o homem soterrado está bem e avança mais uma vez.

 

- Isso, cachorrinho da Deusa... – diz o invasor – ...venha ajoelhar e lamber minhas botas!

 

- Meus joelhos só dobram na presença de Atena! – responde o Urso.

 

A visão de Geki fica turva repentinamente. O homem que se apresenta como Narciso torna-se dois a sua frente. Quando ele desequilibra e quase cai, Narciso abre um sorriso:

 

- Talvez eu não precise me esforçar tanto para fazer com que se ajoelhe. Isso que você está sentindo é a consequência de ter se aproximado de mim. O perfume do narciso exalado pela minha pele é capaz de enfraquecer até mesmo um cavaleiro de Ouro, quanto mais um soldado inferior como você!

 

Geki firma os pés novamente, mas antes que possa esboçar um contra-ataque, ele nota uma série de plantas brotando do chão e entrelaçando em seu corpo até a cintura. Ele sente essas plantas puxando-o para baixo. “Hora de ajoelhar, cachorrinho”, sussurra debochadamente Narciso. As pernas do Urso começam a dobrar lentamente. O invasor negro vê nisso a proximidade de sua vitória. Subitamente, no entanto, Geki expande seu cosmo e salta, livrando-se da vegetação que o prendia. Aproveitando o grande impulso, ele direciona seu corpo na direção do oponente, surpreendendo-o.

 

- Receba todo o poder das Montanhas Rochosas! – o cavaleiro de Bronze aumenta ainda mais seu cosmo e, unindo as mãos, desce velozmente sobre o inimigo.

 

Narciso consegue desviar-se do impacto por uma fração de segundo. A ferocidade do ataque abre uma cratera no solo rochoso da estrada. Em seguida, estalagmites de pedra brotam como garras afiadas do chão a partir desta cratera em sua direção. Recuando cada vez mais, Narciso é atingido pelo último dente de pedra em seu braço esquerdo. As proteções de metal escuro do membro são destroçadas e seu cotovelo é lesionado.

 

Percebendo a confiança do inimigo finalmente abalada, Geki aproveita para encurtar a distância entre ambos. Suas poderosas mãos envolvem o pescoço de Narciso que é erguido no ar.

 

- ESTRANGULAMENTO DO URSO! – os músculos do cavaleiro se contraem e veias saltam por todas as partes do seu corpo. Quanto mais ele eleva sua cosmo-energia, maior é a pressão da esganadura. Narciso sente que nessas condições seu pescoço logo será esmigalhado.

 

O rugido de cólera do Urso é escutado em todas as partes do Santuário. Nunca antes Geki havia empenhado tanta força em um ataque corpo-a-corpo. Mesmo anos atrás quando enfrentou Seiya na Guerra Galáctica, seu nível de cosmo e técnica não permitiu que seu poder fosse plenamente manifestado. De outra forma, o então cavaleiro de Pégaso não teria sobrevivido ao Estrangulamento do Urso.

 

Geki chega ao limite de sua força física e cósmica. Ele observa que os braços de Narciso não estão mais se esforçando para livra-lo do estrangulamento e isso lhe dá a certeza da vitória. Os efeitos do perfume debilitante de seu adversário se fazem presentes, mas ele não pode perder essa oportunidade. “Preciso suportar esse maldito perfume.” Ainda assim, o cavaleiro de Atena vê sua força esvair-se pouco a pouco. Era a brecha que Narciso precisava para contra-atacar.

 

Raízes surgem do chão e como lanças, atravessam os bíceps de Geki que imediatamente liberta seu adversário e afasta-se sentindo uma dor lancinante. Ele cerra os dentes para não gritar de dor.

 

- Animal, estúpido! Achou mesmo que poderia me derrotar com esse nível de cosmo? Ajoelhe-se agora mesmo e prometo não mata-lo por esta insolência! – ao ouvir a proposta, Geki apruma-se. Seus braços estão ensanguentados. Seus lábios se abrem em sorriso, debochando das palavras de seu adversário:

 

- Ha, ha, ha! O estúpido aqui é você! Terei de fazer um desenho para que entenda... que meu joelho só se dobra na presença da Deusa Atena? Mesmo que gaste todo o seu poder, não me curvarei perante a arrogância de um homem pretensioso. – a face do cavaleiro negro muda de expressão. As marcas do furor surgem em sua face angelical.

 

O cavaleiro de Urso percebe que sua vitória é improvável. Tudo o que pode fazer agora é resistir o tempo necessário para que outro guerreiro do Santuário tome seu lugar na batalha. Outra preocupação é com Dídimo, o velho oleiro da cidadela. Se cair agora, nada impedirá Narciso de mata-lo. Nesse momento crítico, o grande urso reflete:

 

“Tudo que tive ao longo da vida foi a luta. Não conheci o afago de uma mãe ou o prazer de gerar filhos como pai. Minha família são meus irmãos de armas e a constelação que me protege. Sacrifiquei minha liberdade em prol da liberdade daqueles que não poderiam defende-la. Eu juro que como cavaleiro de Atena, vou cumprir meu dever!”

 

A despeito do ferimento, o cosmo de Geki eleva-se uma vez mais. O fluxo de sangue de seus braços aumenta, porém ele já não sente mais dor. Seus sentidos agora se voltam para a concentração de sua cosmo-energia. O chão abaixo explode com a impulsão do Urso. Ele parte como uma bala de canhão na direção de Narciso que não demonstra surpresa, pois já esperava tal reação de seu rival.

 

O homem de armadura negra abre seus braços. Dentre as placas de metal que o protegem, raízes floridas surgem como arpões e partem em trajetória oposta a de Geki.

 

- Desapareça com minha BELEZA MORTAL! – Os arpões atravessam a armadura e o corpo do cavaleiro de Bronze. Braços, pernas e peito são perfurados. Sangue jorra dos ferimentos e empoça ao redor dele. A gravidade das perfurações não o impede de continuar avançando. “Não morrerei sem antes estragar esse rostinho de menina que você tem.” Com um sorriso ensanguentado, Geki consegue aproximar-se e desferir um poderoso soco em Narciso que mal consegue esquivar-se. O punho do Urso atinge o peito do inimigo, destruindo parte de sua placa peitoral. Reagindo a ofensiva, Narciso golpeia Geki que é mandado de volta para perto dos escombros. Ele permanece de pé.

 

O homem que empresta seu nome do lendário filho de Cefiso e Liríope rosna irritado com a insistência do cavaleiro a sua frente mesmo diante da derrota. Narciso concentra seu cosmo para um último ataque. Repentinamente, ele abandona a postura agressiva e apenas observa:

 

- Não preciso desperdiçar energia com este. Já está morto!

 

O velho Dídimo mal pode enxergar Geki de Urso em pé logo a frente de onde ele está soterrado até a cintura por conta do desabamento das ruínas de um antigo templo. O corpo do cavaleiro projeta uma sombra suficiente para cobri-lhe da radiação solar toda a cabeça e parte do peito. É como se, mesmo após sua vida ter expirado, o guerreiro de Atena não tivesse abandonado sua promessa. “Aconteça o que acontecer, eu garantirei que seu último desejo seja realizado”, Geki disse para ele.

 

- Louvada seja Atena! – Dídimo tem seu semblante sempre alegre quebrado por uma profunda tristeza. Em seus longos anos como servidor do Santuário, ele jamais tinha testemunhado cavaleiros combatendo inimigos pessoalmente. Sempre que havia risco de invasão, todos os habitantes do vilarejo eram orientados a permanecerem dentro de suas casas. O barulho de cosmos se chocando podia ser escutado de seus lares, mas sempre a uma distância segura. Hoje ele testemunha um combate mortal a poucos metros de distância e sem chances de fugir de suas consequências. “Não verei minha família antes de morrer, mas estou feliz por presenciar a bravura de um verdadeiro cavaleiro de Atena”.

 

Do outro lado do campo de batalha, Narciso não se contenta em ser o vencedor do confronto: “Vivo ou morto, você se ajoelhará”. A expressão demoníaca do cavaleiro negro contrasta com a beleza divina de seu rosto. Ele estende sua mão direita para frente e por detrás de seu punho, saindo das juntas da armadura, fios de vegetais se entrelaçam formando uma corda rígida com uma extremidade pontiaguda. Ele então lança essa corda que atinge o centro do peito de Geki. O cavaleiro da flor agarra a outra extremidade com a mão e começa a puxa-la para trás na intenção de deixar o Urso de Bronze de joelhos. O corpo do cavaleiro começa a ceder quando um facho de luz branca atravessa o meio da corda, partindo-a em duas. Geki permanece de pé.

 

- Quem está aí? Apareça. Ou pretende lutar como um covarde escondido nas sombras? – Narciso grita fitando o céu, certo de que seu inimigo irá tentar ataca-lo furtivamente. Ele então sente um grande cosmo vindo da direção do cavaleiro de Urso. Ele sabe que se trata de outra pessoa com um nível de poder superior.

 

- Quando senti o cosmo de Geki explodindo, tentei vir o mais rápido que pude. Infelizmente, fui incapaz de chegar para socorrer meu irmão a tempo. – O homem que está logo atrás do corpo de Geki é bem menor que o Urso. Possui aproximadamente um metro e setenta e cinco de altura e um corpo esquio. Ele está vestido com uma camisa de mangas curtas feita de linho amarelado. Suas calças marrons acompanham o tecido da camisa e suas sandálias de tiras de couro desgastadas denotam um homem humilde. Quando a sombra encobrindo o seu rosto se desfaz, Narciso pode notar os cabelos acobreados e os olhos púrpuros do jovem de aparência oriental. A ausência de sobrancelhas e os dois sinais vermelhos sobre sua fronte identificam sua origem. “Lemuriano”, resmunga.

 

- Vai tomar o lugar do companheiro e tentar me deter, cavaleiro? Espero que faça um trabalho melhor. Ele não ofereceu grande resistência.

 

- Você está enganado! Geki cumpriu plenamente seu dever como cavaleiro. Ele saiu vitorioso desta batalha.

 

- O que quer dizer? Ele está morto. Eu o matei.

 

- Narciso é seu nome, certo? Como aquele descrito na mitologia você foi cegado pela própria beleza e arrogância. Muito mais do que impedir sua passagem, Geki estava protegendo a vida de alguém. Uma pessoa que você do alto de toda a sua prepotência não se deu ao trabalho de notar. Por trás deste monte de pedras e terra há um idoso ferido. Era ele que Geki estava protegendo. O fato de permanecer em pé - ainda que sem vida - prova que todo o seu poder não foi capaz de remover a convicção e força de vontade de um verdadeiro cavaleiro de Atena. – o rapaz volta sua atenção para Geki e toca seu ombro – Continue protegendo-o, velho amigo. Eu cuidarei deste oponente em seu lugar.

 

Agora Narciso e o jovem postam-se frente a frente. Ambos estão com as pernas abertas na direção dos ombros e braços abaixados. Isso significa que a luta a seguir não será determinada pela força física e sim pelo cosmo mais elevado. Os olhos de Narciso demonstram a mesma irritação de quando estava enfrentando Geki enquanto seu adversário expressa um olhar indiferente, quase de desprezo. “Vai se arrepender de não estar vestindo sua armadura, cavaleiro.”

 

O sol aproxima-se da metade de seu trajeto diário e este está sendo um dia quente. Não há muitas nuvens no céu. Um pequeno véu branco sobre eles viaja solitário em direção ao astro-rei na tentativa de o encobrir. De algum modo, os guerreiros decidem sem palavras que este será o momento de definição.

 

Quando uma minúscula sombra se projeta sobre eles, Narciso explode seu cosmo e lança sua “Beleza Mortal” com o dobro de potência. Centenas de setas feitas de vegetal são lançadas contra o jovem lemuriano. Pela distância e velocidade não há como esquivar deste ataque e seu inimigo parece resignado, pois não esboça a menor reação para proteger-se. “Venci”, comemora. Todavia, as flechas que deveriam atravessar o corpo do adversário se estilhaçam em milhares de fragmentos a centímetros de tocar a pele do jovem cavaleiro que parece não demonstrar nenhuma surpresa com a situação.

 

- Impossível! Você e o defunto às suas costas deveriam ter desaparecido em meio as minhas flechas!

 

- Seu ataque é realmente mortal, Narciso. Minha “Muralha de Cristal” nos protegeu. – lentamente, o lemuriano ergue o braço direito com a palma da mão estendida – Meu ataque também se manifesta em forma de setas. A diferença é que as minhas são feitas de luz. Agora mesmo destruirei essa armadura escura que você enverga e darei um fim a essa luta sem sentido: FLECHAS ESTELARES!

 

Setas de luz atingem Narciso em todas as direções, despedaçando as placas de metal negro que o revestem. Ele dá um grito de morte enquanto sente seu corpo ser lacerado por incontáveis flechas brancas. Cinco segundos é o tempo de duração do ataque. Para Narciso, uma eternidade de angústia. Ele cai lateralmente, em estado de choque. Antes de perder a consciência ele fala:

 

- Tanto poder... você deve ser... um cavaleiro de... Ouro!

 

- Engana-se novamente. Um cavaleiro de Ouro teria acabado contigo num piscar de olhos, talvez menos. Não é respeitoso que você desconheça a identidade do servo de Atena que o derrotou. Sou Kiki, cavaleiro de Prata da constelação de Escultor!

Editado por thiagoeugenio
Link para o post
Compartilhar em outros sites

Ok, eu gostei bastante do capítulo.

 

Primeiro ponto que gostei demais foi da humanização do Geki. Adorei ver o modo como você o retratou. Aliás, senti similaridades dele com o Aldebaran Clássico. Mas vou deixar isso pra depois. Analisando o personagem como um todo, gostei muito de ver mais do cotidiano do personagem, incluindo o seu treinamento e o modo como ele reagiu à morte dos civis. Muito bom!

 

Narciso foi um personagem que me remeteu diretamente a sua contraparte mitológica e gostei demais dele. É um personagem que só deve aparecer neste capítulo, mas que já conquista o leitor pela personalidade arrogante e prepotente. Achei um contraste interessante o confronto dele com o Geki, tanto em aparência, quanto em personalidade.

 

Aliás, falando nisso, devo dizer que não curti muito o desfecho do Geki. Foi bacana, foi legal, mas me pareceu um guidão de Aldebaran/Ox/Hasgard. Não gostei, mesmo. Em todo caso, espero que ele não tenha morrido.

 

Kiki de Escultor foi surpreendente, pois o natural seria colocá-lo como Cavaleiro de Áries logo. Mas tudo bem, vejamos como você vai desenvolver isso. Aproveitando, me pergunto como os eventos do primeiro capítulo que você postou lá atrás se encaixarão com essa trama. É um dos pontos que mais me desperta curiosidade.

 

Por fim, curioso quanto ao próximo. E quero logo descobrir quais são os inimigos. Aparentemente eu diria os Cavaleiros Negros, mas sei lá, tá tudo meio nebuloso ainda. Abraço e parabéns pelo trabalho!

  • Like 1
Link para o post
Compartilhar em outros sites

Capítulo lido.

 

Gostei muito deste, além de ter partes muito bem descritas em várias vertentes. Curti imenso a participação que deste ao Cavaleiro de Urso, fizeste desta personagem memorável e respeitável pela sua atitude, uma vez que nas obras oficiais não tenha tido este carisma e louvor.

 

O inimigo foi tratado como Gustavo mencionou e este paralelo da sua contraparte mitológica encaixou e assentou como uma luva.

 

Quem conhece Kiki, sempre achou e muitos queriam que fosse o herdeiro legítimo de Carneiro, porém em nada tirou seu brilho, pelo contrário brilhou ainda mais por ser diferente.

 

Excelente capítulo, espero ansiosamente pelo próximo,

Link para o post
Compartilhar em outros sites
  • 2 semanas depois...

IV - EKPHORÁ

 

Delicadamente, as aias de Atena limpam os ferimentos dos dois corpos que jazem sobre as mesas de mármore. Os lenços usados nesta tarefa são embebidos em um bálsamo especial que serve tanto para limpeza quanto para a conservação da pele dos recém-falecidos. Em seguida, elas vestem-nos de acordo com seus respectivos ofícios. O soldado é vestido com camisa e calça de algodão de tons bege, além de botas de couro cozido. As proteções padrão como obreiras, joelheiras e placa peitoral, todas ligadas por tiras de couro afiveladas. Uma coroa de louros adorna sua fronte. Já o oleiro é cingido com camisa e calça simples de linho brancas. Uma bolsa de feltro contendo suas ferramentas e sapatos de couro cru completam sua indumentária. Finalmente, os corpos de Geki e Dídimo são postos em ataúdes móveis para serem transportados em procissão até o cemitério do Santuário de Atena.

 

A pracinha no centro do vilarejo é onde todos estão reunidos para o funeral. Todos menos um: Íllios assiste a tudo sentado numa elevação rochosa longe da multidão. Aglomerações o deixam nervoso, sempre o deixaram. Quando ele e Jakob chegaram ao Santuário, os corpos do cavaleiro de Urso e do oleiro já haviam sido removidos da estrada. Não havia informações sobre o invasor. Jakob saiu a procura de seu mestre, Hyoga de Aquário, enquanto Íllios apenas quis ficar só.

 

Dias antes de partir para a Sérvia em missão, o jovem grego cuidou do sepultamento de sua mãe. Hoje, ele assiste ao cortejo fúnebre de duas pessoas muito bem quistas pelo Santuário. Em ambas as situações, os sentimentos de Íllios parecem questionar o sentido da vida. “Eles lutaram a seu modo durante toda a vida e ainda assim, a morte reivindicou suas obras. Para quê lutar então?”. À distância ele observa.

 

Além do Grande Mestre e Hyoga, ambos cavaleiros de Ouro, os soldados da Deusa que não estão em missão externa se encontram na praça central. Lacaille de Carina, um francês de olhos verdes, responsável-geral pela patrulha do Santuário. Dafne de Flecha, italiana de longos cabelos negros entrançados que além de amazona trata da compra e transporte de provisões para a cidadela. Estes são cavaleiros de Prata. Próximos a eles estão os cavaleiros de Bronze veteranos da Guerra Santa. Nachi de Lobo, Ichi de Hidra, Ban de Leão Menor e Jabu de Unicórnio, japoneses como Geki e muito consternados pela perda do irmão. Nihal, amazona de Bronze de Lebre está auxiliando as aias de Atena enquanto Jakob conversa com seu mestre e o cavaleiro de Prata que deteve o invasor. Apenas Seiya de Sagitário e Atena não estão presentes. “Não! Ainda falta mais alguém...”

 

- Procurando por mim no meio da multidão? Eu sabia que você me amava... – a voz feminina às suas costas arranca Íllios de seus pensamentos. O cavaleiro de Bronze põe-se de pé, irritado como sempre:

 

- Já disse para não fazer isso, Sélene! Você sabe que detesto esse tipo de brincadeira!

 

- Você detesta QUALQUER tipo de brincadeira, rabugento. Eu devo ser a única pessoa no mundo que ainda insiste em ser sua amiga! – Sélene e Íllios se conheceram no início de seus treinamentos. Ela, como toda amazona, tem o rosto coberto por uma máscara prateada – uma tradição desde os tempos mitológicos que representa a mulher ocultando sua feminilidade para tornar-se um soldado de Atena. Todavia, a mascara não podia esconder a beleza de seu corpo torneado e cabelos ondulados de um castanho escuro, quase negro. Aos 15 anos de idade, a amazona de Bronze de Pyxis se destaca pela beleza física e temperamento jovial. Temperamento este que contrastava com o de seu amigo.

 

- Me desculpe. Ainda fico nervoso com toda essa quantidade de gente. Por isso, decidi acompanhar a cerimônia a uma distância em que não me sentisse sufocado. Eu gostava do Sr. Geki. Quando éramos crianças, ficávamos todos admirados com sua força física. Ele conseguia erguer uma coluna de mármore inteira! – o tom de voz do rapaz e já não há sinais de irritação.

 

- Sim, eu lembro. Ele era um pouco carrancudo como você, mas nunca deixou de ajudar a quem precisasse. E foi dessa maneira que ele se foi... – Sélene não completa a sentença. Ela abaixa a cabeça e começa a soluçar. A expressão fria de sua máscara oculta a dor e lágrimas pela perda de alguém que admirara. Íllios ao ver a tristeza da amiga, sente vontade de confortá-la com um abraço. Entretanto, o jovem cavaleiro tem seus músculos paralisados pela timidez. Até mesmo as palavras ficam presas em suas cordas vocais. Ele nada diz, nada faz. Apenas permanece ao lado de Sélene.

 

O público na praça começa a organizar-se para a ekphorá, a ancestral procissão fúnebre que transporta o corpo até o local de sepultamento. O Grande Mestre se posta ao lado dos familiares do Sr. Dídimo em sinal de solidariedade. O corpo de Geki é acompanhado por seus irmãos de armas mais próximos. Jabu, Ichi, Nachi, Ban e Hyoga são toda a família que o órfão enviado anos atrás às montanhas canadenses para tornar-se cavaleiro possuía. Os demais cavaleiros e moradores se posicionam atrás deste primeiro grupo.

 

- Íllios, a procissão já vai iniciar. Precisamos ir. – Sélene esforça-se para interromper os soluços. Íllios desvia seu olhar para o agrupamento. Ele hesita em responder. Multidões realmente o deixam desconfortável. Desfazendo o nó em sua garganta ele finalmente diz:

- Eu... vou permanecer aqui mais um pouco. Pode ir em frente. – essas palavras fazem Sélene suspirar demonstrando frustração. Ela se despede do amigo e desce a colina em direção a praça. Nihal e outras moças a recebem e elas desaparecem em meio as pessoas.

 

- Ela parece um pouco baixinha, mas acredito que você não se importa com isso, não é mesmo? – Jakob repete a atitude Sélene ao chegar despercebido. O comentário indiscreto do russo reacende o furor no cavaleiro de Pégaso, mas ele não permite que isso seja notado. Íllios finge ignorar o gracejo do companheiro de armas mudando o tema da conversa imediatamente:

 

- Alguma informação sobre o invasor? Ouvi dizer que ele vestia uma armadura negra como o homem que enfrentamos na Sérvia. Seu mestre comentou algo sobre isso?

 

- Para alguém monossilábico como você, eu fico espantado com a quantidade de palavras que consegue articular em uma única sentença! – Íllios não expressa nada. Jakob prossegue. – Não. Tudo o que me disse de importante é que o Mestre Shun quer nos encontrar assim que a cerimônia fúnebre terminar. Falou com Seiya?

 

- Não. Ele não me procurou desde que cheguei e não me incomodei em procurá-lo também. Deve estar com Atena, como sempre. Você conhecia Geki?

 

- Seiya e ele nos visitaram na Sibéria uma vez, mas isso faz muito tempo. Bem antes de me tornar cavaleiro. Mesmo assim, Hyoga sempre me contava sobre seus feitos e dos outros cavaleiros de Bronze. Cresci ouvindo histórias de suas missões e batalhas.

Depois de uma semana de convivência, Jakob já se acostumara aos inícios de conversa agressivos de Íllios, porém ele sabia que em algum momento a postura defensiva do jovem de cabelos prateados cederia e logo poderiam dialogar amistosamente. Como ambos desconheciam as motivações para o ataque, passaram a falar sobre a rotina do Santuário – que o cavaleiro russo desconhecia – e sobre outros assuntos triviais.

 

O início do crepúsculo marca igualmente o início da marcha em direção ao cemitério dos cavaleiros. Como não há rede elétrica, tochas e archotes são acessas para iluminar o caminho. Em silêncio, as cerca de 300 pessoas percorrem as ruas pavimentadas por paralelepípedos. Íllios e Jakob seguem o grande grupo a certa distância.

 

Logo, a comitiva chega ao local dos sepulcros e uma nova cerimônia se inicia. Um a um, familiares e pessoas próximas se dispõem a falar das virtudes e feitos dos finados. Alguns ousam até mesmo relatar passagens bem-humoradas das vidas dos homenageados e ninguém se importa em sorrir afinal, as boas lembranças dos entes queridos são aquelas que se perpetuarão em seus corações. Depois de um longo período de discursos, Shun de Virgem, o Grande Mestre do Santuário, convoca todos para uma oração:

 

- Que os espíritos de nossos irmãos retornem à Suprema Virtude e que seus feitos sejam registrados nas estrelas. Somos todos parte de um único universo e como tal, nossos cosmos deverão um dia se reunir em comunhão com a orbe celeste. Que o corpo de Geki, cavaleiro de Bronze de Urso repouse ao lado daquele por quem ele se sacrificou para proteger e que o Sr. Dídimo possa gozar da paz eterna após toda uma vida de devoção à Atena ao lado de seu protetor. – essas são algumas de suas palavras. Quando as cordas são passadas ao redor dos ataúdes para estes sejam depositados no fundo de seus respectivos sepulcros, um cosmo quente e reconfortante inunda o lugar. De repente, todos se voltam para a figura feminina envolta em um brilho dourado surgindo por entre o público.

 

Saori Kido, a Deusa Atena desta geração, é uma mulher belíssima. Ela possui grandes olhos castanhos e seu olhar transmite paz, confiança e obstinação. Seu rosto rivalizaria até mesmo com o de Helena, a mais bela mulher do Mundo Antigo. Seus cabelos longos e lisos escorrem por suas costas até a altura da cintura, esvoaçando com a brisa do litoral. Os braços com músculos levemente definidos, mantém a delicadeza e a feminilidade da Deusa da Guerra intactas. Ela veste seu longo vestido branco e apoia seus passos no báculo sagrado que representa a divindade da vitória, Nike. Ao vê-la, os cavaleiros presentes começam curva-se, porém, a Deusa faz um meneio com a cabeça autorizando-os a permanecer de pé.

 

Não é apenas o cosmo de Atena que acalenta os corações, sua humildade e comiseração para com os familiares e pessoas próximas aos falecidos é admirável. Sem dúvida aquela bela mulher, herdeira de uma das maiores riquezas e detentora de poderes e dádivas divinos abriria mão de tudo para proteger e acalentar os que sofrem. Ela verdadeiramente ama a todos.

 

Íllios também está encantado com a jovem grega. Entretanto, ele nota algo além da divindade e benevolência da Deusa: Seiya, diferente do que imaginara, não está ao seu lado.

Link para o post
Compartilhar em outros sites

Capítulo lido.

 

Gostei imenso deste pela sua simplicidade, descrição e um homenagem ao Cavaleiro de Bronze, Geki de Urso.

 

A apresentação dos outros Cavaleiros de Bronze e Prata conhecendo a lenda dos seus antecessores e veteranos.

 

Excelente capítulo, continua assim e posta sempre que possas, abraços.

Link para o post
Compartilhar em outros sites
  • 1 mês depois...

XI - Velas Negras

 

 

Seiya observa as ruínas do templo de Poseidon sobre o promontório a sua frente. Apenas as colunas de arquitetura dórica resistem às intempéries do clima litoral. Ali em tempos imemoriais, um rei aguardava o retorno de seu filho com olhos fixos no mar. Egeu, rei de Atenas questionou a Deusa “Por que Teseu? Por que o meu filho?”, no que a altiva deidade respondeu “Por que ele é o mais adequado para esta missão e é seu dever como cavaleiro atender ao chamado de Atena”.

 

Durante anos, Minos, o poderoso rei de Creta, subjugou Atenas exigindo sazonalmente o sacrifício de 14 jovens – sete rapazes e sete moças – para servirem de alimento para a besta que o regente guardava em um labirinto colossal construído pelo maior dos arquitetos da época. Atena que nessa época habitava o palácio real da cidade-estado que emprestava seu nome resolveu encerrar os atos de violência e tirania de Minos e convocou seus cavaleiros, dentre eles, Teseu, filho do rei Egeu. “Minha Senhora, permita-me cumprir esta sagrada demanda” foram as palavras do príncipe de Atenas. Todos no salão do palácio espantaram-se com a ousadia daquele menino que recentemente havia sido sagrado cavaleiro da Deusa. “Filho, pense bem. És inexperiente demais para aceitar tal fardo” tentou argumentar o rei. Entretanto, o jovem estava resoluto: “Sou inexperiente, porém sou o único capaz de chegar à ilha de Creta sem ser notado”. Teseu tinha razão. Os outros soldados de Atena eram homens maduros e o filho de Egeu era quem possuía a mesma idade dos jovens desejados por Minos. Assim, depois de muito relutar, o rei autorizou seu unigênito a partir para a perigosa missão.

 

No porto, os preparativos para o embarque de Teseu e dos demais 13 adolescentes para Creta estavam concluídos. O soberano de Atenas despediu-se de seu herdeiro com essas palavras:

 

- Filho, és meu maior tesouro. Nada que possuo será capaz de substituí-lo. Permanecerei de pé sobre o cabo Sunion esperando teu regresso. Tua embarcação partirá com velas negras. Se tiveres amor por mim, ao retornares hasteie velas brancas para que eu saiba que estás vivo. Não permitirei que ninguém me diga nada até que possa ver com meus próprios olhos o seu retorno.

 

“Assim farei, meu pai” respondeu o jovem cavaleiro com um sorriso confiante no rosto.

 

O sol começa a se pôr no horizonte. “Geki deve estar sendo enterrado agora. Vá em paz, irmão” Seiya suspira entristecido por não estar presente no funeral do cavaleiro de Urso. Ele desce a encosta de vegetação rasteira. Logo abaixo do promontório à cerca de 63 Km da cidade de Atenas, uma fenda na rocha esconde a entrada de uma caverna. Após esgueirar-se pela abertura estreita, o cavaleiro de ouro acende uma tocha deixada propositalmente no interior da cavidade. A luz do fogo revela uma escada esculpida na rocha e que leva a uma câmara inferior. Ao fim dos degraus, um corredor e uma cela com barras de metal que permanecem intactas apesar dos efeitos corrosivos do mar salgado. “A prisão do Cabo Sunion”, suspira Seiya.

 

Logo após a construção do Santuário, Atena ordenou que fosse escavado no interior do Cabo Sunion uma prisão. A Deusa da Sabedoria selou a prisão para que ela fosse intransponível. Mesmo um cavaleiro de Ouro com todo o seu poder não seria capaz de libertar-se. O último a ocupar a cela de pedra abaixo do templo de Poseidon foi Kanon, irmão de Saga, acusado de conspirar contra a Deusa.

 

Ao postar-se em frente à cela, Seiya observa o homem trajando uma velha túnica de sarja e com diversas bandagens curativas pelo corpo. A violência do ataque de Kiki causou danos levemente insuficientes para matar Narciso. O suposto cavaleiro negro está deitado de bruços, aparentemente contemplando o rosto ferido da piscina de água doce nos fundos do cárcere.

 

- Como você está? – pergunta o cavaleiro de Ouro. – Seus ferimentos são graves, mas não são mortais. Com o tratamento certo logo você estará saudável novamente.

 

- E o que você quer que eu faça para receber o tratamento certo? – insinua Narciso.

 

- Logo após a luta, analisamos o material da sua armadura. É uma liga de titânio comum sem nenhum vestígio de gamânio ou oricalco. Você não é um cavaleiro negro! Quem é você?

 

Durante sete dias Egeu ficou de pé, fitando o horizonte à espera de seu filho. Dia após dia o rei de Atenas negou-se a receber informações sobre a missão de Teseu. Nada importava mais do que avistar as velas brancas anunciando o retorno de seu herdeiro. Somente isso acalentaria seu coração contrito. Nem mesmo a Deusa ousou falar com o soberano grego.

 

Narciso lentamente ergueu-se da borda da fonte d’água, sem virar o rosto para o seu inquisidor:

 

- Seiya de Sagitário, cavaleiro de Atena. Essa postura severa não combina com você. Esperava uma conversa menos informal entre nós dois. É interessante perceber que sei muito sobre você e o Santuário enquanto você não faz a mínima ideia da minha origem. Sim, de fato não sou um cavaleiro negro assim como Ronan também não era. Atena julgou mal em achar que somente seus soldados seriam capazes de manifestar e manipular o cosmo.

 

- Não aqui. O selo da Deusa bloqueia seu cosmo para impedir sua fuga. Por mais que tente, não sairá sem a permissão do Santuário, portanto, responda minha pergunta: quem é você e o que quer com Atena?

 

Seiya escuta uma fraca, porém escarnecedora risada como resposta. Surpreendentemente, ele sente o cosmo de Narciso elevar-se simultaneamente com o volume da gargalhada. O cavaleiro está atônito com tamanha ousadia. Antes que possa dizer qualquer coisa, Narciso interrompe o deboche e finalmente fita Seiya nos olhos. Seu outrora belo rosto está desfigurado:

 

- Seus guardas inteligentemente removeram todas as sementes que uso para desenvolver minhas armas, exceto uma: a que está no meu estômago. Não direi nada a você, cavaleiro de Ouro! Partirei enchendo seu coração de dúvidas. Saiba apenas que a tirania de Atena chegará ao fim em breve. Adeus, Seiya de Pégaso!

 

Ramificações de plantas brotam de todas as partes do corpo de Narciso, rasgando seu tecido orgânico em todas as direções. De sua boca, olhos e ouvidos centenas de ervas saltam cobrindo-lhe toda a cabeça. O outrora guerreiro permanece de pé, sustentado pela vegetação que nascera de seu próprio corpo. As flores homônimas adornam o topo como uma coroa mortal. É o fim de Narciso.

 

As trancas da cela abrem-se como se soubessem da morte de seu prisioneiro. Seiya cobre o cadáver com um cobertor e carrega-o até o topo do promontório. Ele observa os últimos resquícios do sol desaparecendo no horizonte antes de lançar o corpo ao mar.

 

Ao fim do décimo dia de vigília quando as estrelas e a lua começavam a tomar o lugar do astro-rei, Egeu finalmente vê a embarcação de seu herdeiro surgir por entre as ondas. Velas negras estão hasteadas e seu coração entra em desespero. As mãos trêmulas envolvem a garganta tentando de alguma maneira libertar a voz que ficou presa. Os joelhos vacilam e ele quase cai. Pouco a pouco, suas pernas o aproximam do despenhadeiro do Cabo Sunion e por fim ele atira-se para a morte marinha. Seu corpo é destroçado pelas rochas, mas Egeu não se importa. As velas brancas não foram hasteadas significando que a razão de sua existência perecera no labirinto de Minos. Se ao menos ele tivesse permitido que os arautos o informassem do sucesso de Teseu e de seu retorno em segurança, o rei não haveria tomado tal decisão. Uma morte infeliz e desnecessária causada por sua própria negligência.

 

Seiya decide que não esperará por velas brancas ou negras. Ele não será negligente como o rei mitológico. Como soldado de Atena, buscará as respostas para suas dúvidas antes que seja tarde demais. Em sua mente, as últimas palavras de Narciso martelam “Saiba apenas que a tirania de Atena chegará ao fim em breve”. O cavaleiro então torna seus olhos para sua constelação guardiã e parte em direção ao Santuário. É chegada a hora de reunir-se com seus irmãos uma vez mais.

Editado por thiagoeugenio
Link para o post
Compartilhar em outros sites
  • 3 semanas depois...

Oi Thiago! Recentemente acabei de ler sua fic então estou deixando um comentário geral sobre ela

.

Sua história se destaca pelo testo fluido e não cansativo, foi legal a ideia de colocar personagens conhecidos junto com novos. Gostei bastante do cavaleiro de pégaso ele me pareceu bem decidido e independente, toda essa coisa dele desenvolver seu próprio golpe baseado em chute, ficou bem legal, eu só gostaria que vc fosse além e deixasse que vencesse com um ataque próprio, por exemplo uma versão de chutes do meteoro de pégaso. O cavaleiro de cisne também ficou interessante, fiquei impressionado ao me tocar que ele era o Jacob! O amiguinho do Hyoga da sibéria! Muito criativo o da sua parte usar este figurante!

O prologo também foi bem legal, principalmente por mostrar um deus de outra mitologia o Thor, só fiquei triste que ele morreu rápido, como adoro mitologia nórdica, gostaria muito de ver mais do deus do Trovão, mas isso é só opinião pessoal mesmo

Os inimigos, ainda são bem misteriosos, não sabemos a origem deles ou seus exatos objetivos, o que deixa a história intrigante, mas fora isso eles são bem simplistas, um dos únicos baixos da sua história

 

Bom por enquanto é isso cara, Parabéns pela fic, prometo acompanha-la de agora em diante

 

Para finalizar gostaria de convida-lo para dar uma olhada na minha fic, A Era do Ragnarok, o estilo dela é um pouco diferente da sua mas também do período, "pós-hades" de saint seiya. Porém em vez de focar cavaleiros, foca nos guerreiros deuses de Asgard

Gostaria muito que conferisse ela e deixasse sua opinião

 

Até a prox

 

 

Link para o post
Compartilhar em outros sites

Participe da conversa

Você pode postar agora e se cadastrar mais tarde. Se você tem uma conta, faça o login para postar com sua conta.

Visitante
Responder

×   Você colou conteúdo com formatação.   Remover formatação

  Apenas 75 emojis são permitidos.

×   Seu link foi automaticamente incorporado.   Mostrar como link

×   Seu conteúdo anterior foi restaurado.   Limpar o editor

×   Não é possível colar imagens diretamente. Carregar ou inserir imagens do URL.

×
×
  • Criar Novo...